Educação: um problema de todos.

Quando pensamos em educação, automaticamente imaginamos escolas, professores, alunos, porém a educação vai além disso, estando presente fora do ambiente escolar e de maneira informal, o que inclui difusão de cultura, de valores sociais como certo e errado, padrões de conduta, e acaba formando tipos de homens e mulheres que variam de acordo com sua época, região e características da sociedade em que estão inseridos. Isso significa dizer que a educação, em suas diversas formas, é que constitui cidadãos que irão perpetuar sua cultura, seus valores, e os preparar para exercer plenamente a função de cidadãos. Educação constitui a base de um ciclo que envolve cidadania, cultura, democracia e liberdade. Sem ela não é possível a construção de um Estado democrático onde os cidadãos tenham discernimento para julgar os governantes e suas propostas e assim, garantir que a sua vontade seja efetivada. E que esses cidadãos possam analisar fatos, propostas, polêmicas, sem interferência da mídia, de valores religiosos e, dessa forma, possam agir a favor do bem comum e não tão somente de interesses pessoais.

Entretanto sabemos que a educação no nosso país rasteja em estado de calamidade pública, deixando de formar pessoas com o mínimo de conhecimento e capacidade de julgamento necessários para que possam desempenhar seu papel social de forma coerente.Não vejo outro meio de narrar a educação das escolas públicas como conhecimento empilhado e que torna massante o aprendizado ao aluno. Isso faz com que não tenhamos uma cultura que fuja do padrão Globo de televisão, e as pessoas não questionem sua realidade. Pessoas céticas como eu, você e muitos que não acreditam que mudanças possam ser feitas. Sem educação nos falta também uma série de outros direitos como segurança, transporte, saúde, moradia de qualidade, e que, uma minoria se revolta e cobra posições do governo e dos órgãos competentes, enquanto a maioria permanece na inércia do ceticismo acreditando que mudanças serão impossíveis. Ter uma massa questionadora é o princípio básico para o início de qualquer sociedade democrática e livre, e nosso país está muito longe de alcançar isso.

Me vejo também muito cética em relação a mudanças sociais no Brasil, mas no fundo ainda acredito que através da educação e de fortes meios de conscientização mudanças possam começar. E percebo isso observando que pouca gente tem consciência de que um problema grave como na educação do nosso país afeta a todos, desde o cara que pertence a uma classe social mais elevada e tem medo de sair na rua e ser vítima de um assalto, ao que faz parte da classe média, sustenta os ricos e sofre com a falta de estrutura das cidades, e ao cara que é pobre e não tem meios de mudar sua condição social, dando uma demonstração o mais clichê possível. Pensar educação vai além se percebermos quem são os cidadão e tipos de pessoas que estamos formando, quem serão os profissionais que nos atenderão daqui a 10 anos, quem dará continuidade aos progressos que a humanidade conseguiu até então, irá propagar nossa cultura, se pecamos desde o mais básico. E, sinceramente, não vejo por onde começar as mudanças.

Penso que talvez parar de tratar das conseqüências sem dar prioridade a suas causas, leia-se: cortar o mal pela raíz, seja um bom começo, mas não depende só da minha pobre vontade solitária ([…] eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade. Paulo Freire). Sem a conscientização da sociedade para a importância da educação não é possível cobrar ações pública, e sem isso, nada se faz. Uma luta social deve partir da vontade da sociedade e não de fora dela para que seja real e séria. É um ciclo vicioso: sem educação não há conscientização, e sem conscientização não há educação, interpretando educação não só como o ensino formal, escolar.

Gosto de uma citação que o Nenê Altro fez em algum trecho do Manifesto Discórdia, onde diz que as pessoas lutam por seus próprios interesses e não pra que seja feita a caridade, um ponto que acho importantíssimo ressaltar. Precisamos pensar em educação e criar meios de reverter a vergonha que ela é em nosso país para o nosso bem, e é acreditando nisso que vou todos os dias para a faculdade buscando meios de mudar alguma coisa, talvez para mim mesma, dado que há muito percebi que viver para tentar agradar os outros não funciona… Vou encerrar com uma frase do Paulo Freire, mais uma vez, que é minha recomendação de leitura do post de hoje e que mesmo tendo sido escrita há algumas décadas, permanece atual: A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda.

17 comentários em “Educação: um problema de todos.

  1. Já dizia o Olavo de Carvalho: “A educação brasileira nos relega a condição de vermes aguardando a idade adulta para sermos eliminados. Só o conhecimento aplicado salva e isso leva no mínimo 20 anos…”

    Quando eu absorver em 20 anos o conhecimento aplicado terei o maior prazer de discordar com argumentos concretos desse pensador original e audacioso que é o Olavo de Carvalho, embora desde já não concordar com tudo que ele fala, mas faço questão de ouvir (e ler) o que ele tem a dizer. Em quanto isso permaneço em sucessivas tentativas de inclusão, driblando o sistema eliminatório em que vivo, para não morrer na praia…

    Achei interessante a maneira que vc abordou esse assunto. Um abraço e parabens pela escrita!

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  2. E o pior de tudo, falta educação pública e também aquela educação que recebemos em casa. Os pais de hoje pensam que podem jogar seus filhos de qualquer jeito na escola, para lá, os professores se virarem com ele ¬¬

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  3. ée muito interessante essa temática e percebe-se a cada dia os furos no sistema educacional; os preconceitos, a forma de lidar com os alunos e a maneira com que pensam neles. É tudo muito padronizado, por isso as pessoas estão cada vez mais robóticas.

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  4. Concordo com sua visão a respeito da educação em nosso país e em como esta abrange muito mais do que apenas o âmbito escolar. Tal ponto de vista vivencio todos os dias por estagiar como professor de uma escola pública e lidar com todos os tipos de jovens. Muitos deles não fazem a menor idéia do motivo de estarem ali. A alienação deles, a meu ver, se dá por falta de uma clara explicação e debate com os alunos sobre a importância que tal momento de aprendzado refletirá em seus futuros.
    Infelizmente, apenas alguns conseguem enxergar a carência de educaçâo como um problema desencadeador e, quando o fazem, já estão fora da escola e têm de recorrer a cursos e reforços.
    Além disso, temos o fator alienante da sociedade, que usa os veículos de comunicação – ou é usada por eles – e também os estabelecimentos sociais (como igrejas, por exemplo)para embutir uma opinião geral sem nenhum questionamento, nenhum debate. E vende isso como o correto. Atrofiando a mente do indivíduo.
    Também penso em minha vantagem ao defender uma educação geral de melhor qualidade, quero uma sociedade mais reflexiva mais pensante e evoluída para que eu possa viver melhor.

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  5. Muito bom seu blog, obrigado por está divulgando o meu blog, obrigado mesmo, será que você aceitaria eu pegar algumas postagens suas que eu ache interessante e divulgue no meu blog, eu divulgo com seu nome , pode ser ?

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  6. gostei como você colocou a educação no primeiro parágrafo, e depois veio disseminando a educação como ela é. Falar aqui a impressão que seu texto me causo seria falar o texto em si, pois, acredito que, o texto tenha surgido de sua reflexão e de muita das nossas conversas,poratnto, compartilhamos o mesmo ponto de vista…propagar uma educação de qualidade é sinonimo de crescimento tanto social, cultural e tecnologico para o Brasil, porém, seria também, tirar a faca e o queijo da uma pequena elite que nós domina.

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  7. Apague o comentário acima? mandei com o link errado )
    este abaico é o certo.

    Acho que para a educação melhorar, precisa de uma reforma radical na maneia de ensino. O nosso sitema: Sala\aluno\professor, Esta ultrapassado e não prende a atenção de quem assiste as aulas apenas por obrigação. Ai esta uma grande questão ver aula por obrigação, e isso falo apenas na educação que você cita no começo do texto. Em geral, como você menciona estamos condicionados a esse sistema de quem detem o poder não quer sair de lá, e para isso temos de ter pouca informação. Claro que é dificil escapar de tudo isso, são pensamentos que vem enraizados desde a idade média, onde a religião já era usada para manipular o povo, isso sem querer citar o pão e circo.

    Bom é isso, acho que me perdi em meu comentário mas tudo bem rs
    Gostei do blod.

    passa lá no meu

    http://www.umcontoemeio.blogspot.com/

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  8. Olá!

    Caí de paraquédas aqui. =)

    Você aponta para o ciclo vicioso da política educacional brasileira: educação de baixa qualidade = cidadãos que não questionam = políticos que para se manter no poder patrocinam uma educação de baixa qualidade.
    Somos formatados para não questionar determinados valores, porque interessa a alguém (ou “alguéns”) manter essa configuração. E useis esse “alguéns” pq não é só aos ditos políticos que interessa o não-questionamento.
    Nos últimos anos o governo (federal) fez mudanças (e algumas delas positivas) mas seu objetivo não me parece a formação do povo e sim tentar melhorar a imagem do país lá fora, subindo posições em índices educacionais gringos.
    Acho que vc acertou: a mudança (para melhor) se dá através da educação. Mas não vejo interesse em fazer algo pela e para a educação vindo de lado nenhum. As salas de aula tem alunos do século XXI e métodos educacionais do XX.
    Educação é um tema complexo, envolve muuuitas coisas. Mas se alguém não começar a reformar seus alicerces, logo logo essa casa vai cair.

    bjohnny.

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    1. Sim, há muito interessados em criar alunos robozinhos que não pensam por si próprios, mas compram pensamentos já embalados e prontinhos para uso da mídia, do senso-comum… E é um ciclo, se você não cria uma educação que forme questionadores, dái quem vai questionar pra mudar qualquer coisa no país, não só a educação?
      É muito complexo, uma parte só da educação, se formos discutir quem ganha com a precariedade do sistema que, como você disse, tem alunos desse século, mas utiliza métodos do passado, que imaginam um aluno que é irreal, e uma sala de aula hollywoodiana , teríamos assunto pra mais um post sobre educação.
      Gostei muito do comentário, dos pontos que você colocou. É importante perceber que alguém perde pra que outro ganhe, e daí notar a importância de melhorar a qualidade do ensino pra que possamos transformar a sociedade.
      Só questionando esse “de lado nenhum” que você colocou. Hoje vejo as iniciativas começando dentro das Universidades públicas brasileiras, não por todos alunos, mas por alguns que tiro de exemplo da universidade onde estudo, que criam cursinhos de graça, com alunos voluntários, parar possibilitar que alunos de baixa renda consigam vagas no ensino superior público, por que este sim é bom. Daí, como diz meu amigo, uma mudança de cima (Universidade) para baixo (os demais ensinos) no sentido de que formando professores aptos a lidar com alunos de uma maneira nova, possam melhorar a educação e cobrar ações do governo. É um longo caminho, seria melhor que fosse uma mudança com iniciativa do governo, melhorando a qualidade do ensino público desde o princípio, para formar pessoas no Ens. Médio com uma boa educação.

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  9. É inevitável falar educação e não relacionar o ato com “caridade” como conversamos agora a pouco né!? A questão verdade vai muito além de só “dar o peixe” e há uma necessidade de mudar a estratégia do ensino. Você vê hj nas escolas públicas, professores estacionados que não se importam com a absorção do conteúdo pelo aluno, porque para ele é conveniente manter o emprego, e o não manter o foco onde ele realmente deveria estar: Aluno!
    Mas a massa se deixa influenciar muito no que os manipuladores vendem, porque eles almejam o poder, e é isso que faz com que as pessoas continuem onde estão. São facilmente manipulados pelos “bolsa-ganha-votos” e pela mídia vendedora de utopias que ao invés de compartilhar de valores e cultura, só passa novelas imorais e nojentas! É o grande lance que Orwell nos mostra em “1984”, um controle sobre nossos pensamentos e vontades e a escolha sobre os fatos não cabe a nós. Por isso sou totalmente a favor do ponto de vista do Nenê Altro, devemos todos ser como Winstons sabe!? Questionar, ir a luta: “Enquanto o grande irmão não pode nos ouvir, nada mais importa só você aqui”. E é aí que a educação se torna um ponto crucial, porque é capaz de formar pensadores, e mudar o curso do que está se tornando essa sociedade duvidosa a qual pertencemos hj!Acho que é isso..rsrs

    Beijão Veh, e nem preciso dizer o quanto adorei o tema né!?

    @jehvias

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    1. Sim, educação é muito amplo mesmo… Tem toda a questão do sistema de ensino que é precário e faz com que o aluno não se interesse pela escola, dos professores que tem uma formação muitas vezes precária, que dão aula pelo dinheiro, e muitas vezes querem até modificar e criar interesse nos alunos, mas não encontram meios de realizar essas melhorias. Não cabe somente ao professor ou ao aluno o interesse de ensinar e aprender, vai além, cabe ao Estado também fornecer condições para que a educação seja dada a todos. Adorei seu comentário e citar o que você colocou caberia num novo post sobre o assunto! (:
      Beijoos!

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