Com essa vida que se leva “não sobra nada pra morrer”…

Ninguém gosta de falar sobre a morte. É mórbido, assusta, é estranho pensar no mundo girando sem a gente pra fazer parte dos fatos. E, devido a essa nossa dificuldade de pensar sobre o assunto, acabamos vivendo como se tivéssemos mais sete vidas pela frente, mas não temos. Sempre me faço uma pergunta: “Se eu morresse hoje, eu estaria satisfeita com a vida que eu levei?”, e é claro, a resposta é sempre “não”! A gente idealiza uma vida, mas é sempre impossível colocar tudo em prática e aí ficamos com aquela sensação de que podíamos ter feito mais, mudado uma atitude aqui e outra ali, que podíamos ter tido mais coragem, etc… Sempre me pergunto também como eu viveria se soubesse que só tenho mais um ano de vida e chego à conclusão de que eu me importaria menos com as coisas que tiram o meu sono de noite, que eu teria menos preguiça de me levantar da cama, seria mais próximas das pessoas que eu amo e relevaria mais algumas atitudes para evitar brigas, teria mais coragem de ir atrás do que eu quero e me importaria menos com a opinião alheia, entre outras coisas.

Fazendo todas essas perguntas, eu sempre me surpreendo negativamente com a quantidade de gente que vive amarrado à convicções que não importam porcaria nenhuma, obcecados com a ideia de que é preciso ser normal. Em um mundo capitalista o que é ser normal? É viver em busca de status, dinheiro, ter uma casa bonita e um quadro digno de “família de comercial de margarina” na parede da sala enquanto os problemas se acumulam debaixo do tapete? Enquanto a sede por dinheiro não paga a conta de uma vida gasta tentando se adequar á última moda? Isso é o oposto do normal, nada mais é do que nós humanos aplaudindo a escravidão a que o sistema nos submete.

Estamos nos tornando seres previsíveis e pateticamente parecidos, enquanto deveríamos valorizar as diferenças em nome de um mundo com mais graça, mais cor, mais contrastes e mais humanidade antes de qualquer coisa! Soa revolucionário e romântico, mas não é! Estamos cercados de medo, como se a nossa liberdade fosse um peso maior do que o prazer que ela pode proporcionar. Na verdade nós temos medo e não sabemos nem de quê e o medo é a principal arma do sistema para nos escravizar! Nós somos escravos das instituições religiosas que fazem  de tudo para moldar nossas leis e nos obrigar a agir de acordo com suas epifanias doentes! Somos escravos do trânsito que nos faz perder horas e horas a fio em congestionamentos. Somos escravos da moda, dos padrões de comportamento e de beleza, e estamos deixando que ponham as mãos em nossa bunda e nos digam que ela é grande demais para caber na calça cool da semana de moda! O modo como vivemos é uma espécie de não-vida.

Será que se tivéssemos realmente a consciência de que vamos morrer algum dia, nos importaríamos com qualquer bobagem e teríamos tanto medo de andar fora do rebanho? É simplesmente ilusória a ideia de que um novo sistema mudaria as coisas, que uma revolução adiantaria alguma coisa! Seria o mesmo que fantasiar uma pessoa de árvore, ela continuaria uma pessoa! Temos que começar por nós, viver como se não tivéssemos muito tempo, e começar a agir de acordo com nossa consciência e fazendo as nossas próprias escolhas sem nos importar muito com o que esperam de nós! Embarcar numa viagem de auto-conhecimento e evolução pessoal e só então, poderíamos conquistar todo o resto! Viver não só com nossos corpos e nossas contas bancárias, mas com nossa alma, por inteiro, sendo senhores de nossas vidas e das mudanças que queremos ver!

“Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouví-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.” Charles Bukowski

E você, morreria feliz? O que faria se tivesse apenas mais um ano de vida?

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