Qual o preço da cultura?

Ontem eu decidi participar do Cursinho Popular da Unifesp ministrando algumas aulas de História e Geografia e tudo isso me fez refletir muito sobre o preço que pagamos pela cultura e educação, que em tese, deveriam ser direito de todos, mas não são. Paga-se muito caro para ter acesso a esses bens, que acabam ficando concentrados nas mãos daqueles que tem maior poder aquisitivo. Por exemplo, quantas vezes você consegue ir ao teatro ou cinema em um mês? Qual a variedade de livros que você pode encontrar na biblioteca do seu bairro? Aliás, seu bairro tem uma biblioteca pública? E se tem, há livros novos e bem conservados, ou você só consegue ler um best-seller depois de semanas ou meses na lista de espera para reservar o livro? Se você quer prestar vestibular, qual a preparação que sua escola te dá ou deu? Será que é suficiente ou mesmo após tantos anos se dedicando à escola, você ainda terá que reservar mais alguns no cursinho pré-vestibular? Você tem condições de arcar com as despesas de um cursinho pago? O quanto tudo isso te desmotiva a conseguir realizar seus sonhos?

Então pensando nisso tudo, decidi participar dessa iniciativa brilhante, tomada por alunos e professores da Unifesp, e estou aceitando essa oportunidade como um grande desafio, e uma forma de retribuir a sociedade a possibilidade de estudar numa Universidade Federal. Como cidadãos, devemos ser e fazer as mudanças que queremos ver em nossa sociedade e estou fazendo isso por realmente acreditar na importância que têm a cultura e a educação para a vida das pessoas, sem receber nada por isso além de gratificação pessoal. Finalmente saindo do discurso e indo para a prática. E vou dedicar meu blog também um pouco a isso, reservando esse espaço para falar de cultura e abranger o máximo de conteúdo de apoio para as minhas tão esperadas aulas.

No mais, digo ainda que ter cultura e educação, nunca são indispensáveis. Não só para conhecer pessoas e lugares interessantes, estudar e ganhar mais dinheiro. Não acredito que esse seja o foco, e se assim é que tudo isso tem sido encarado, é por estarmos banalizando e reduzindo esses ‘bens’ à mercadorias e a sinônimos de ascensão pessoal apenas. Imagino que cultura e conhecimento sejam espécies de amuletos, que carregamos sempre conosco para nos ajudarem a enfrentar o que vem pela frente, para nos dar base para pensar, solucionar os problemas e secundariamente, nos dar o retorno financeiro por nosso investimento.

Espero conseguir passar um pouco dessa minha ideia da necessidade de se valorizar o conhecimento e os professores, e contribuir para que a profissão seja mais atrativa e menos desmotivadora para quem pensa em ganhar a vida nas salas de aula. Fácil não é! Estou empolgada, as turmas começam na segunda-feira, e temos mais de 600 alunos matriculados, por isso estou correndo para preparar o máximo de aulas que eu puder. E que ansiedade!

 

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina

Cinéfila, eu?

Nos últimos tempos tenho assistido a muito filmes. Em média uns três ou quatro por fim de semana, e cada um deles só me faz reforçar ideias que carrego já há algum tempo. Perdi alguns anos da minha vida tentando bancar a durona, mas a realidade é que mal posso assistir 30 minutos de um filme com leve toque de drama ou romance, que já começo a segurar o choro. Acho incrível o poder que as histórias têm sobre as pessoas: de repente numa tarde de domingo, entediado, você coloca um filme  e uma cena te faz refletir sobre a sua vida inteira. É isso que me atrai no cinema: a sensibilidade ao contar tramas, a sutileza de algumas interpretações, o humor sarcástico e inteligente, a curiosidade por novas culturas e ideias, a imaginação que constrói ficções absurdas de tão fantasiosas e mesmo assim dotadas de algum sentido. Poderia divagar por horas. Amo cinema.

Assistir a todos esses filmes bonitos que tenho encontrado por aí me faz lastimar cada vez mais a realidade. Em que mundo vivemos em que é mais apreciado ver dois homens lutando e matando semelhantes, do que se amando? Onde as pessoas se escondem por trás de suas máscaras e pior que nos filmes, inventam realidades que não existem, só para terem o conforto de ignorar o que não lhes convém? Cada filme carrega em si uma mensagem embutida, clara ou abstrata, que pode servir ou não ao telespectador. Ultimamente tenho aproveitado muito os que falam de liberdade; por mais mentirosos que talvez possam ser, eles sempre me fazem refletir o quão importante e edificante pode ser viver fazendo o que se tem vontade, tendo permissão para ousar, reinventar, viver realmente sem ressalvas, com os dois pés no chão e o coração aberto… Quanto tempo se perde alimentando mágoas, cultivando certos hábitos que nos impedem de crescer e experimentar novas experiências? Sinceramente nunca vi nenhum preconceito que levasse a alguma evolução.

Aqui vão os Trailers e pequenas sinopses de alguns filmes (fora de ordem de preferência) que tem me tirado do tédio, feito dar boas risadas, refletir e chorar:

 

Tempos Modernos  (Modern Times), de Charles Chaplin (1936). É um filme bastante antigo, ainda mudo e preto & branco, que faz uma crítica ao sistema capitalista e à sociedade da época com muito humor.  É um clássico obrigatório e só perde quem não assiste por achar que todo filme antigo está ultrapassado. Tempos Modernos permanece atual mesmo após mais de 70 anos.

 

 

O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button), David Fincher (2008). Conta a história de Benjamin Button, interpretado por Brad Pitt, um bebê que ‘nasce idoso’ e conforme o passar do tempo, vai se tornando jovem. Foi baseado no livro de F. Scott Fitzgerald e indicado a 13 oscars (dos quais venceu três) e 6 globos de ouro. O filme é brilhante, faz rir e chorar ao mesmo tempo e tem uma fotografia muito bonita.

 

 

Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love), Ryan Murphy (2010). Julia Roberts interpreta Elisabeth Gilbert, a autora do Best Seller Comer, Rezar e Amar, que viaja para a Índia, Itália e Indonésia numa saga em busca do auto-conhecimento. Relutei por muito tempo para ver o filme, por que confesso que o nome me deixava com a sensação de que iria presenciar um filme de auto-ajuda, mas me enganei e me surpreendi positivamente com o filme. Tem uma trilha sonora incrível, atores maravilhosos, e cenários deslumbrantes. Deixa qualquer um com vontade de sair viajando mundo a fora também.

 

 

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs), Edward Zwick (2010). Anne Hathaway estrela no filme interpretando Maggie Murdock, uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson e tem pavor de relacionamentos amorosos, até que se vê balançada por Jamie Randall (Jake Gyllenhaal), um sedutor que trabalha na indústria farmacêutica. O filme é mais do que uma comédia romântica, tem uma trilha sonora muito boa e a fotografia é linda. Chuto dizer que essa é uma das melhores atuações de Anne Hathaway.

 

 

Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached), Ivan Reitman (2011). No elenco temos Ashton Kutcher e Natalie Portman, interpretando dois jovens amigos que buscam um único objetivo, sexo, mas que acaba gerando enormes confusões. Uma comédia romântica muito boa, pra passar o tempo mesmo.

 

 

Então providencie a pipoca, escolha um filme e divirta-se! Tenho mais dezenas de indicações e então abaixo vai uma listinha maior!

  • Coincidências no Amor (Jeniffer Aniston – Comédia Romântica)
  • Assunto de Meninas (Temática GLS – Drama)
  • Um quarto em Roma (Temática GLS, conceitual, não deve agradar muita gente – Drama)
  • Casa Blanca (Clássico)
  • Bruna Surfistinha (Nacional / Drama – Bastante pesado, porém interessante, com uma fotografia incrível e as atuações são excelentes)
  • Olga (Nacional)
Se alguém tiver mais sugestões, só deixar nos comentários!

Anne Frank: Uma História sobre o Holocausto

O Diário de Anne Frank é um dos livros mais importantes e comoventes já publicados. Trata-se de um retrato do holocausto escrito por uma menina judia de 13 anos que, devido a perseguição aos judeus, passou 2 anos escondida com sua família e alguns amigos, em cômodos secretos, num prédio comercial de Amsterdã, chamados de Anexo Secreto. Foi nesse ambiente que Anne Maria Frank, nascida em Frankfurt, na Alemanhã, em 1929, passou sua adolescência e encheu as páginas de seu diário com suas intimidades, descobertas de adolescente, reflexões, e, principalmente, dados sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a perseguição aos judeus. Mais do que escritos de uma adolescente, o Diário de Anne Frank é a voz de mais de 6 milhões de judeus que perderam suas vidas e tiveram seus sonhos interrompidos com a perseguição, além de apresentar ao mundo uma das personalidades mais brilhantes já vistas: a de uma jovem que mesmo com poucos motivos, ainda mantinha sua fé da bondade humana e mantinha esperanças de ter um futuro feliz. Seu diário é até hoje um dos livros mais vendidos e traduzidos no mundo todo, sendo uma verdadeira lição de sensibilidade e humanismo, emocionando e inspirando leitores.

Sua história mundialmente conhecida se transformou em quadrinhos, desenho animado, documentários, inspirou filmes como “Escritores da Liberdade” e foi, inclusive, utilizada no discurso de Nelson Mandela pós recebimento  do prêmio humanitário da Fundação Anne Frank em 1994, “onde disse à milhares de espectadores em  Johannesburgo  que havia lido o diário de Anne Frank enquanto estava na prisão e que ‘sentiu um grande alento com isso’. Comparou a luta de Anne contra o nazismo com a sua própria contra o apartheid, traçando uma linha paralela entre as duas filosofias com o comentário ‘porque estas crenças são evidentemente falsas, e porque foram, e sempre serão, desafiadas por pessoas iguais a Anne Frank, e destinadas ao fracasso’.”

Após dois anos vivendo na clandestinidade, Anne Frank e os demais moradores do Anexo Secreto foram denunciados por vizinhos anti-semitas e levados a campos de concentração. Anne morreu de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen, em 31 de março de 1945, aos 15 anos. O único sobrevivente de sua família foi seu pai, Otto Frank. O mesmo decidiu publicar o diário da filha depois de descobrir que o grande sonho de Anne era ser escritora e que seus escritos servissem de registros do holocausto. Nem seu pai sabia o quão especial era Anne Frank.

Hoje, o Anexo Secreto pode ser visitado e é conhecido como o Museu de Anne Frank, localizado em Amsterdã. O local é um dos pontos turísticos mais visitados da Holanda e sua história permanece emocionando pessoas em mais de 70 línguas.

Sábado, 15 de julho de 1944

“(…) Pois em suas mais íntimas profundezas, a juventude é mais solitária que a velhice.” Li esta frase em algum livro, acho-a verdadeira e lembro-me sempre dela. Será verdade que os mais velhos passam por maiores dificuldades que nós? Não, sei que não é assim. Gente adulta já tem opinião formada sobre as coisas e não hesita antes de agir. É muito mais duro para nós, jovens, manter a firmeza e as opiniões em tempos como estes em que os ideais são destruídos e despedaçados, as pessoas põem à mostra seu lado pior e ninguém sabe mais se deve crer na verdade, no direito e em Deus.

Quem afirma que os mais velhos passam por dificuldades maiores certamente não compreende a que ponto nossos problemas pesam sobre nós; problemas para os quais somos jovens demais mas que aparecem continuamente até que acreditamos, depois de muito tempo, haver encontrado uma solução; só que a solução parece não resistir aos fatos que, de novo, a reduzem a nada. Esta é a maior dificuldade desses tempos: surgem dentro de nós ideais, sonhos e esperanças, só para encontrarem a horrível verdade e serem destruídos.

Realmente, é de admirar que eu não tenha desistido de todos os meus ideais, tão absurdos e impossíveis eles são de se realizar. Conservo-os, no entanto, porque apesar de tudo ainda acredito que as pessoas, no fundo, são realmente boas. Simplesmente não posso construir minhas esperanças sobre alicerces formados de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo transformar-se gradualmente em uma selva. Sinto que estamos cada vez mais próximos da destruição. Sofro com o sofrimento de milhões e, no entanto, se levanto os olhos aos céus, sei que tudo acabará bem, toda essa crueldade desaparecerá, voltarão a paz e a tranquilidade.

Enquanto isso, é necessário que mantenha firme meus ideais, pois talvez chegue o dia em que os possa realizar.

Sua Anne”

Educação: um problema de todos.

Quando pensamos em educação, automaticamente imaginamos escolas, professores, alunos, porém a educação vai além disso, estando presente fora do ambiente escolar e de maneira informal, o que inclui difusão de cultura, de valores sociais como certo e errado, padrões de conduta, e acaba formando tipos de homens e mulheres que variam de acordo com sua época, região e características da sociedade em que estão inseridos. Isso significa dizer que a educação, em suas diversas formas, é que constitui cidadãos que irão perpetuar sua cultura, seus valores, e os preparar para exercer plenamente a função de cidadãos. Educação constitui a base de um ciclo que envolve cidadania, cultura, democracia e liberdade. Sem ela não é possível a construção de um Estado democrático onde os cidadãos tenham discernimento para julgar os governantes e suas propostas e assim, garantir que a sua vontade seja efetivada. E que esses cidadãos possam analisar fatos, propostas, polêmicas, sem interferência da mídia, de valores religiosos e, dessa forma, possam agir a favor do bem comum e não tão somente de interesses pessoais.

Entretanto sabemos que a educação no nosso país rasteja em estado de calamidade pública, deixando de formar pessoas com o mínimo de conhecimento e capacidade de julgamento necessários para que possam desempenhar seu papel social de forma coerente.Não vejo outro meio de narrar a educação das escolas públicas como conhecimento empilhado e que torna massante o aprendizado ao aluno. Isso faz com que não tenhamos uma cultura que fuja do padrão Globo de televisão, e as pessoas não questionem sua realidade. Pessoas céticas como eu, você e muitos que não acreditam que mudanças possam ser feitas. Sem educação nos falta também uma série de outros direitos como segurança, transporte, saúde, moradia de qualidade, e que, uma minoria se revolta e cobra posições do governo e dos órgãos competentes, enquanto a maioria permanece na inércia do ceticismo acreditando que mudanças serão impossíveis. Ter uma massa questionadora é o princípio básico para o início de qualquer sociedade democrática e livre, e nosso país está muito longe de alcançar isso.

Me vejo também muito cética em relação a mudanças sociais no Brasil, mas no fundo ainda acredito que através da educação e de fortes meios de conscientização mudanças possam começar. E percebo isso observando que pouca gente tem consciência de que um problema grave como na educação do nosso país afeta a todos, desde o cara que pertence a uma classe social mais elevada e tem medo de sair na rua e ser vítima de um assalto, ao que faz parte da classe média, sustenta os ricos e sofre com a falta de estrutura das cidades, e ao cara que é pobre e não tem meios de mudar sua condição social, dando uma demonstração o mais clichê possível. Pensar educação vai além se percebermos quem são os cidadão e tipos de pessoas que estamos formando, quem serão os profissionais que nos atenderão daqui a 10 anos, quem dará continuidade aos progressos que a humanidade conseguiu até então, irá propagar nossa cultura, se pecamos desde o mais básico. E, sinceramente, não vejo por onde começar as mudanças.

Penso que talvez parar de tratar das conseqüências sem dar prioridade a suas causas, leia-se: cortar o mal pela raíz, seja um bom começo, mas não depende só da minha pobre vontade solitária ([…] eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade. Paulo Freire). Sem a conscientização da sociedade para a importância da educação não é possível cobrar ações pública, e sem isso, nada se faz. Uma luta social deve partir da vontade da sociedade e não de fora dela para que seja real e séria. É um ciclo vicioso: sem educação não há conscientização, e sem conscientização não há educação, interpretando educação não só como o ensino formal, escolar.

Gosto de uma citação que o Nenê Altro fez em algum trecho do Manifesto Discórdia, onde diz que as pessoas lutam por seus próprios interesses e não pra que seja feita a caridade, um ponto que acho importantíssimo ressaltar. Precisamos pensar em educação e criar meios de reverter a vergonha que ela é em nosso país para o nosso bem, e é acreditando nisso que vou todos os dias para a faculdade buscando meios de mudar alguma coisa, talvez para mim mesma, dado que há muito percebi que viver para tentar agradar os outros não funciona… Vou encerrar com uma frase do Paulo Freire, mais uma vez, que é minha recomendação de leitura do post de hoje e que mesmo tendo sido escrita há algumas décadas, permanece atual: A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda.