Já faz algum tempo que ando mais de saco cheio do que de costume e venho notando o quanto é cansativo estar rodeada de relacionamentos artificiais, que se criam por pura conveniência, cercada por comportamentos mesquinhos e comentários cheios de veneno. Esse tipo de convivência tóxica faz mais mal do que cigarro, e geralmente quando notamos que fazemos parte dessa redoma de maldade, é sinal de que já estamos afundados, viciados em fazer comentários medíocres sobre a vida de pessoas que nem sequer nos interessam, apenas porque elas cometeram o imperdoável erro de viver uma vida diferente das nossas. Sempre chego à conclusão de que essa mania de ficar criticando os erros ou acertos dos outros nos suga toda a liberdade de sermos aquilo que realmente somos. Se eles não estão livres, então nós também não estamos.
A questão é que ninguém mais parece capaz de agir gratuitamente por mero prazer ou por gentileza. A empatia anda em falta e tudo tem um preço, inclusive as pessoas – um preço bem baixo, eu diria: o status. Tem se tornado cada vez mais difícil encontrar boas companhias, aquelas com as quais passamos horas simplesmente falando e terminamos com a sensação de que fomos compreendidos. Têm se tornado raros os encontros com alguéns que se identificam com nosso modo de pensar, agir e sentir as coisas e, finalmente, com as quais as pequenas convenções sociais acabam sendo deixadas de lado. Um cabelo bagunçado, uma barriga à mostra, estrias brancas na bunda. Pessoas que apreciam nossa companhia e não estão sempre à espreita aguardando nossa primeira falha para soltar comentários desnecessários e cheios de maldade. Pessoas que tiram fotos para guardar recordações, que cozinham e consomem até o que ainda não passou pelo raio gourmetizador, que sabem elogiar com sinceridade sem esperar outra gama de elogios em troca. Pessoas que nos sentem, que nos enxergam.
As pessoas hoje não têm qualidades, têm utilidades. As fotos têm mais sabor do que a comida, o casamento mais importância que o amor, o dogma mais significado que Deus. É assim que as coisas são. Todo dia milhares de pessoas, como diria Bukowski, carregam um monte de merda dentro da barriga, mas fazem questão de fingir que não as cagam. Tentam mostrar que possuem mais amigos, mais influência, mais poder de compra, que contam as melhores estórias e, no final, vivem as mesmas vidas amargas que vivemos, com as mesmas pressões e o mesmo fim.