Cartas de Caio F., saudades e existencialismos rápidos.

Ler essas cartas de Caio Fernando e viver numa era de internet e interatividade digital (oi?) me deixam com vontade de viver numa época diferente, com outros valores e outros interesses. Numa outra esfera, onde os amigos fossem mantidos por perto e as conversas de longas distâncias tivessem cheiro de papel, envelope e correio, e não de computador. Onde músicas lembrassem encartes e não players de mp3.

Ao passo em que as novidades chegam para nos aproximar do mundo, parece que o mundo se distancia cada vez mais da gente. Ando querendo sentar, escrever algumas histórias minhas, colocar os pensamentos num papel, mas sinto como se as tecnologias que foram inventadas para facilitar e agilizar a vida, me obrigassem a fazer um monte de coisas em um pequeno espaço de tempo, então quando o dia termina, acabo dormindo pesado.

Se temos a internet, para quê tempo para desperdiçar a saliva com amigos e gente querida? A gente parece que pisca e o tempo passa! E parece que estamos sendo consumidos pelas nossas próprias invenções. Um papo meio “Eu, robô!” demais, mas é verdade! É impossível também evitar pensar naquele discurso de Chaplin no final de “O Grande Ditador”: “(…) Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.”

Pensar sobre essas coisas me faz sentir saudade de momentos que não vivi, só passei perto… É um tanto traumático pensar que assim como os celulares, os computadores e as TVs, tudo está ficando mais compacto, até as nossas relações. Falta amor, falta tempo, falta espaço, falta profundidade e, principalmente, tempo para existencialismos. Boa noite.

“O nosso amor a gente inventa…”

Eu sempre começo com um pé meio atrás e como se já não bastassem as experiências ruins passadas, ao menor sinal de envolvimento, eu perco a medida e sigo com pressa demais. Me afogo em incertezas, me iludo numa tentativa desenfreada de encontrar quem tenha a mesma sede de intensidade que eu. Mas eu nunca encontro alguém que veja a mesma graça que eu em peças de teatro, shows que todos se esquecem de assistir, reflexões em mesas de bar e bancos de metrô, salas de cinema, livros de cabeceira.

Olho para dentro de mim e tento encontrar as explicações. Todas fogem de mim. Então me sinto culpada, crio teorias, me denuncio, concluo: “o nosso amor a gente inventa”, pra só depois descobrir que invenção não preenche, não satisfaz!

*Título de Cazuza.