Memórias da minha infância racista

Durante muitos anos, se me perguntassem, eu teria dito que nunca fui vítima de racismo.
Talvez seja porque quando a gente pensa em racismo, logo imagina um preto sendo expulso de um lugar chic ou sendo xingado de macaco. Mas sofrer racismo vai além disso, VAI MUITO ALÉM DISSO, e eu explico:

Quando um preto é xingado, constrangido, fica mais fácil reconhecer o racismo e não internalizar os xingamentos. É mais fácil reconhecer que o problema está no racista, não em nós. Dói, eu sei, e tenho muita empatia por cada preto que já ouviu ameaças, xingamentos ou perdeu a vida por sua cor de pele. Mas quem dera o racismo fosse escancarado e não “à brasileira”. Quem dera fosse tão simples identificar quem é o racista e o que é o racismo. Se todo mundo dissesse em alto e bom som que não gosta de nós porque somos pretos, seria questão de entender que simplesmente o problema está no preconceito outro e que não há nada de errado em nós (e claro, processar esses desgraçados). Mas quando a gente é vítima de racismo sem ser, necessariamente, xingado e constrangido escancaradamente, começamos a achar que o problema está em nós. E esse é um lado do qual quase nunca falamos.

A primeira vez que eu sofri racismo eu me senti estranha, mas não pensei, por anos, que tivesse sido racismo. No entanto, ficou a lembrança da primeira vez que eu me senti completamente inadequada sendo como era. Eu tinha por volta de 12 anos de idade, estava indo fazer uma maquete para a aula de história na casa de uma “amiga”. Essa “amiga” era aquele combo da garota perfeita por quem todo garoto tem um crush (eu não lembro qual era o termo que a gente usava na época, em meados dos anos 2000): branca, cabelo liso com reflexos loiros, olho meio verde, umas sardas charmosinhas. E eu, era a sombra dela: a neguinha feia, cabelo ruim preso num rabo de cavalo, mas que era engraçada, boa ouvinte e servia de ponte entre ela e os meninos. As outras meninas do nosso grupo seguiam o mesmo padrão dessa minha “amiga”; todas, sem exceção, tinham cabelos lisos e peles muito claras; entre a confecção da maquete e fofocas, elas elogiavam umas nas outras características que eu não tinha e jamais viria a ter, como olhos claros, cabelos que ficavam lindos em tranças embutidas e que ganhavam reflexos naturais do sol. Eu ficava ali, ouvindo e elogiando, sem esperar elogios de volta. Mas aí, percebendo esse meu constrangimento por estar totalmente excluída da conversa, elas começaram e pegar meus cachinhos que estavam presos e apertá-los. E eu, sem muita reação, fiquei ali ouvindo elas falando do quanto meu cabelo cheirava bem, do quanto era macio, do quando elas não esperavam que fosse macio e gostoso de pegar. Elas faziam isso e eu tentava sorrir e elogiar meu próprio cabelo, enquanto uma voz na minha cabeça gritava “ELAS ESPERAVAM QUE MEU CABELO FOSSE DURO E ESPETASSE A MÃO DELAS, COMO PALHA DE AÇO, BOMBRIL E QUE TIVESSE CHEIRO RUIM”. Mas tudo bem, elas estava sendo legais em me incluir na conversa, não é mesmo? Não era um cabelo bonito mesmo, pelo menos estavam sendo legais ao dizer que era gostoso de apertar. Acho que ainda lembrar disso mesmo quase 20 anos depois dá uma ideia do quanto aquele episódio fez com que eu me sentisse inferior.

Porém, ali começou o tal do incômodo comigo mesma. Eu não entendia que tinha vivenciado um episódio recheado de racismo, pois na minha vida escolar inteira eu havia aprendido que racismo estava relacionado à época da escravidão e que existiam pessoas que xingavam e humilhavam negros até hoje porque não gostavam da cor deles. Eu não tinha sido xingada, humilhada, tinha apenas ganhado elogios racistas, o que eu só viria a entender anos e anos depois. Devia ficar feliz por esses elogios, não é verdade? E entender que o problema estava em mim realmente, já que meus traços não colaboravam.

Foi depois desse dia que eu coloquei na cabeça que pra ser feliz precisava fazer uma escova progressiva. Depois desse dia eu também comecei a querer ser como as minhas “amigas” para ser aceita como elas eram. E não era uma questão apenas de chamar a atenção dos meninos. Eu não tinha autoestima sequer pra achar que chamaria atenção deles. Mas eu percebia que as meninas padrão tinham mais amigos (mesmo as que eram insuportavelmente desinteressantes e infantis), elas tinham mais crushes (enquanto eu era a amiga dos meninos, aquela com quem eles contavam pedindo conselhos, mas não enxergavam “daquela” forma), elas eram convidadas para mais festas, recebiam mais carinho dos professores, dos funcionários do colégio, eram mais populares, os pais dos amigos gostavam delas e demonstravam isso. Enquanto isso, eu tinha muita vergonha dos pais de qualquer amiga de escola, pois era bastante comum que eu fosse vista por pais como má influência para suas filhas, mesmo sendo uma grande nerd que não pegava ninguém.

Claro que ali, estudando numa escola particular a qual meu pai fazia enorme esforço para pagar antes que eu conseguisse uma bolsa de 100%, morando em um bairro mais periférico e com menos acesso a arte, cultura, internet, roupas de marca, as diferenças entre mim e minhas “amigas” não estava somente na cor de pele. E por todas essas diferenças, e pela aparência física, obviamente, eu era constantemente excluída, estava o tempo inteiro tentando me provar, ser melhor, ser mais bonita, aparecer mais, ter mais amigos, tirar notas melhores. No final das contas, o que toda criança quer é sentir que é querida. Meus pais e demais familiares faziam um esforço enorme para que eu tivesse essa atenção, mas sem saberem, eles mesmos, como funcionava o racismo, não tinham como me alertar que o problema não estava em mim. E por anos eu fui convivendo com essa sensação de inadequação. Tive que descobrir sozinha, anos depois, que o padrão de beleza era branco e que essa era a grande razão por trás do mal estar que eu sentia naquele ambiente.

E padrão de beleza branco significa que as pessoas brancas preferem se relacionar com outras pessoas brancas. Elas preferem fazer amizades com pessoas brancas e dão mais atenção e mais credibilidade para pessoas brancas. As demais pessoas, que não fazem parte desse padrão, não são tão interessantes. Não entender como funciona o racismo quando você está inserido numa comunidade racista é terrível. A vida social e escolar de uma pessoa preta que cresce nesse contexto pode se tornar um inferno. E pior do que isso, a criança negra que vive em um contexto branco, geralmente cresce internalizando uma série de preconceitos contra si própria.

Eu não nasci odiando meu cabelo. Não comecei achar minha boca muito grande do nada. Não nasci tímida e nem ansiosa. Não nasci bélica e nem aprendi tantos xingamentos do nada. É difícil escrever sobre isso sem estar motivada pela raiva ou tendo qualquer tipo de distanciamento, mas aí vem a melhor parte dessa história: no final daquele mesmo ano em que fui na casa da tal “amiga” padrãozinho fazer uma maquete, eu fui cancelada. O motivo? Quis ser leal e contar a essa menina que ela estava sendo corna aos 12 anos de idade. E por mais que eu contasse a história com riqueza de detalhes e não tivesse sequer autoestima para flertar com ninguém, fiquei como a garota feia que estava com inveja da loirinha gata e queria roubar o namorado da rival. Patético, eu sei. Mesmo naquela idade, eu achava ridículo brigar por causa de meninos.

Daquele dia em diante, a minha vida escolar de transformou em um inferno. Eu fui excluída de todas as rodinhas, cantavam músicas ofensivas quando eu passava, faziam todo tipo de chacota com a minha aparência e faziam questão de me lembrar que o tal do menino jamais olharia pra mim. Fui obrigada a mudar de turma e passei três anos de estresse constante, enquanto na escola e em casa, tudo era visto como picuinha de adolescente. Minha rotina era andar com medo de que ao pisar em qualquer corredor alguém viesse em meu ataque e me fizesse passar vergonha na frente de novas amizades que construí.

Vocês se lembram do cancelamento da Karol Conká? Eu não consegui compactuar com o cancelamento dela, embora ela tenha errado, porque o meu próprio cancelamento quase 20 anos atrás, me fez aprender algumas lições.

Estar em um ambiente branco sendo uma criança ou adolescente negra, te ensina desde cedo que você não pode errar. Quando você chega em um ambiente racista e começa a se enturmar, é porque as pessoas brancas foram “gentis” em abrir aquele espaço para você, mesmo você sendo tão diferente. Mas, se você dá um passo fora, isso é motivo para que suas “regalias” sejam cortadas, afinal, elas fizeram tanto esforço em te aceitar! Você errou e mostrou que aquelas pessoas eram boas demais e que você não merecia a compaixão delas em te reconhecer como um igual. Você tem zero credibilidade com aquelas pessoas. Agora que você pisou na bola, as pessoas estão autorizadas a te odiar, te perseguir, te desumanizar e serem cruéis. “Paga de gente boa, mas olha quem ela é de verdade!”. A pessoa negra não encontra ninguém para passar um pano. E nunca será desculpada, por mais que o crime dela tenha sido revelar que uma jovem já está sendo chifrada aos 12 anos de idade, em uma conversa privada.

É péssimo lembrar de todas essas situações e saber que essas pessoas se esqueceram. E que hoje vivem suas vidas tranquilamente, possivelmente reproduzindo seus padrões racistas que elas chamam de “mais afinidade”, “gosto pessoal” e  “atração física”. E, se der uma stalkeada nas redes sociais, você facilmente encontra algumas se afirmando antirracistas enquanto posam para fotos ao lado de crianças negras em algum ato caridade.

Pelo menos, quando entendemos um pouco sobre a convivência em espaços racistas, conseguimos nos desprender de muitas coisas que internalizamos. É necessário desprender. E eu me desprendi quando entendi que as situações que aconteceram comigo, não aconteceriam com nenhuma garota branca na escola, por mais que motivos não faltassem.

Ainda existe blogueira que escreve em blog em 2021? Bom, se não existir mais, foda-se!

Eu acho que preciso de um lugar para organizar a bagunça da minha cabeça e, se você quiser acompanhar, vamos lá…

Brasil, 2021. Dois termos que abrigam muitos significados. Tudo isso também tem deixado vocês ansiosos?

Alguns anos atrás li um livro de cartas trocadas entre Caio Fernando Abreu e amigos, incluindo Hilda Hilst e Cazuza.
Muitas daquelas cartas foram trocadas nos anos 70, nos tempos de ditadura. Lembro de ficar assombrada com aquela atmosfera de medo, insegurança, angústia, incertezas. E eu juro que nunca achei que fosse sentir na pele o que li naquele livro. Dói.

Tenho me mantido ocupada e produtiva durante maior parte da pandemia. Iniciei um negócio online do zero, que espero que faça bastante sucesso em breve e não surtei em nenhum momento. Ok, exceto quando pedi demissão. UAU. Mas a melancolia tomou conta de mim, hoje. E eu só consigo pensar que estou presa em um momento horrível para ser jovem no Brasil e querer construir um futuro.

Como nos permitimos chegar a esse ponto e aguentar tudo isso? Sentir o tronco entrar e não fazer nada!
600 mil pessoas morreram! Quando eu escrevo isso, parece ficção. Mas não é, foi real!

Quem vem da classe trabalhadora e não tem casa própria, não está com a vida ganha, é quem mais está sentindo as consequências do verdadeiro caos que tomou conta do país. A impressão que tenho é que estamos sufocando na tragédia, 20 anos de regressão!

E voltando à parte de ser jovem, fico pensando no significa a juventude. Espera-se que os jovens façam planos, que estudem, que viagem, que tenham sonhos. O fascismo é isso: nos tiraram toda a perspectiva…

1984, 1964 ou 2020? Os algoritmos das redes sociais e futuro distópico de hoje

Vocês se lembram de um texto da Chimamanda Ngozi Addichie chamado O Perigo da História Única? Esse texto nos faz refletir sobre como somos formados pelas histórias que ouvimos. Nós entendemos o mundo de acordo com as narrativas que nos são contadas; quando crianças, essas narrativas formam nossos primeiros valores e, futuramente, elas nos fazem ter bagagem para decifrar a realidade que nos cerca. Mas quando misturamos internet, narrativas e algorítimos das redes sociais, o resultado nem sempre é muito bom.

Os algoritmos sabem de todas as nossas preferências, eles conseguem saber todos os nossos desejos, desde os mais sutis, como a vontade de comprar uma bolsa nova, até os mais secretos. E toda vez que você assiste a um anúncio, sabe o que aconteceu antes disso? A empresa que criou aquele algoritmo vendeu suas preferências para a empresa anunciante. Dessa forma, aquela bolsa que você pesquisou o preço e não comprou fica aparecendo em anúncios quando você acessa outra página.

Mas os algoritmos não sabem somente o que você quer comprar. Eles sabem sua orientação sexual, sua faixa de renda, seu estilo de vestimenta, que músicas você ouve, as séries que você mais gosta, se você tem ou não filhos, onde você mora, sua idade e suas preferências políticas. Principalmente, suas preferências políticas. A impressão que temos é de que as redes sociais nos entendem, e assim, elas acabam nos conquistando. Os algoritmos acabam assumindo o papel dos nossos amigos, nos indicando e recomendando coisas que nos interessam o tempo todo. Não precisamos sequer pesquisar, como fazíamos há alguns anos. Será que o próximo passo dos robôs do Google e do Facebook é ler os nossos pensamentos? Aposto que o mercado do Marketing Digital seria um grande entusiasta dessa invenção.

Infelizmente, só agora estamos começando a nos questionar a respeito da influência da Internet sobre nossa realidade e descobrimos algo que deveria ser mais do que óbvio quando pensamos nos bilhões que as redes sociais e os mecanismos movimentam com seus anúncios: quando você usa um serviço gratuito, na verdade, ele não é gratuito, o produto que ele vende é você!

A questão não é sobre nossas preferências serem mercadoria para as empresas que querem nos vender produtos. O problema não é receber anúncios em massa. Os algoritmos têm tido um papel fundamental na difusão de informações e é graças a isso que eles acabam contando histórias que se adequam às preferências de cada pessoa. É a era da pós-verdade, onde basta uma mentira ser contata repetidas vezes, tendo algum elemento de verdade, para que se torne uma verdade.

O algoritmo decide que uma pessoa, por exemplo, receba notícias de jornais sérios e outra, receba Fake News. E é assim que as ferramentas de marketing digital são utilizados para manipular a opinião pública e, obviamente, as eleições. Literalmente filtrando as pessoas por preferências, criando verdades e mentiras personalizadas para cada tipo de pessoa.

Por isso nós, que temos acesso a informações de qualidade, nos questionamos como pode ainda ter uma minoria que parece acreditar em uma narrativa absolutamente desligada da realidade. Esses dias mesmo entrei em uma discussão mais ou menos educada com uma bolsonarista que era médica, e pasmem, acreditava que a melhor forma de lidar com a pandemia seria adotar a imunidade de rebanho e que a bandeira do racismo era desculpa para derrubar o governo, já que os negros tem mais chance morrer pois moram nas favelas dominadas pelo tráfico. E moram nas favelas porque é onde os pobres moram, não devido à resquícios do Brasil escravocrata que nunca reparou os danos causados à população negra que foi escravizada por 400 anos. Tudo “mimimi de esquerdista”.

Infelizmente novamente, é triste perceber como a extrema direita tem domínio sobre a utilização desses algoritmos, desde sempre ligados à conteúdos sobre empreendedorismo. A bolha da esquerda, por sempre ter feito piada e desmascarado esse fascínio dos liberais pelo empreendedorismo, não acessou esses conhecimentos para antever que poderiam ser utilizados para fins golpistas. Vivemos hoje aquele futuro distópico de 1984, em que um governo autoritário controla tudo o que nós fazemos através de uma tela. Nós não percebemos.

O mais triste disso é ver o quanto a manipulação desses algoritmos é capaz de destruir vidas e o futuro das pessoas. Você pega as preferências da Maria José, que ficou revoltada com a corrupção do PT e se sente traída pelo Lula, que está indignada com a cotação do dólar e o preço do combustível, que está com medo de sair de casa sozinha por conta da violência e acha os jovens de hoje em dia não têm mais valores, e vende essas preferências para um governo de extrema-direita, que quer convencê-la de que promover o Estado Mínimo, privatizar, retirar direitos trabalhistas, acabar com ideologia marxista nas salas de aula e armar a população, é a solução para que a Maria José veja um Brasil funcionando outra vez. O algoritmo é utilizado para desinformar, pois fica muito mais fácil vencer eleições com ajuda de Fake News.

E a Maria José passa a vida acreditando que abrir mão dos próprios direitos, que trabalhar sem ter direito a aposentadoria, é a solução para o seu país. Ela é convencida a trabalhar até morrer, por isso diz que é patriota, porque está literalmente dando o sangue para ver o país de volta aos trilhos.

A cidadã Maria José não sabe que a esquerda – essa que sente que só fala para quem está em sua própria bolha – tem um outro projeto de país onde cada vez um número maior de pessoas poderá ter acesso à alimentação, saúde, moradia, educação, lazer, cultura. Tudo aquilo que já nos é garantido pela Constituição.

A esquerda, ou as esquerdas, precisam estudar esses mecanismos e entender como funcionam esses algoritmos. E precisamos questionar também as empresas que estão por trás deles, afinal, elas estão lucrando com a desinformação. Elas são as mensageiras, muito bem pagas, dessa guerra velada e regida por nenhuma lei!

Pitty, a Matriz que há em mim saúda a Matriz que há em você

Eu me lembro como se fosse ontem do momento em que ouvi Pitty pela primeira vez: eu estava em uma festa de aniversário, devia ter entre 11 e 12 anos, e o clipe de Admirável Chip Novo estava passando na MTV. O ano era 2003. Fiquei chocada com aquela música e desesperada para descobrir o nome da artista que estava cantando. Não precisei de muita pesquisa na internet – ainda discada – para descobrir de quem era a música, e uma semana depois comprei Admirável Chip Novo nas Lojas Americanas. Dissequei aquele álbum. Prestei atenção em todas as linhas e entrelinhas do encarte, pesquisei todas as referências que eu encontrei, de Huxley e Orwell a Thomas Robbes, de O lobo. E foi assim com todos os álbuns seguintes. Eu, que nunca fui uma boa colecionadora, comprava com a minha mesada todas as revistas em que Pitty saía para ler as entrevistas, na ânsia de compreender quem era aquela mulher. O recado dela, afinal, me ajudava a entender o meu próprio recado.

E em Setembro desse ano, quase 15 anos após ter ouvido as primeiras canções, fui ao show de lançamento da Turnê Matriz em São Paulo. Um show lindo, ingressos esgotados, um set list com músicas de todos os álbuns anteriores, duas música novas – “Contramão” e “Te conecta”- e uma inédita – “Controle Remoto”, além de participações de Tássia Reis e Emicida, que ajudaram a marcar a noite trazendo mais peso e rebeldia para o som. Estar ali após tantos anos acompanhando de perto, foi mágico. Na fila que virava o quarteirão, encontrei amigos de show que eu não via há anos, todos discutindo teorias sobre o momento atual da banda, alguns muito satisfeitos e outros não tanto, mas todos ansiosos para a noite. E quando o show começou, foi ali na platéia, no meio do bate cabeça, que acessei minha Matriz.

Voltei no tempo, fui parar em uma época em que eu era uma adolescente de 1,50 m que negava toda sua fragilidade. Na fase em que eu fui matando meus heróis e, junto, uma parte da minha essência. Cada nova música do Setlist me transportava para alguma fase boa ou, às vezes, para algum sentimento ou cutucada que a Pitty deu em alguma ferida. Enquanto eu empurrava uns e me defendida de prováveis hematomas, entendi quem eu fui em Admirável Chip Novo, Anacrônico e Chiaroscuro, quem eu ensaiei ser entre o Agridoce e o Sete Vidas, e quem me descobri ao acessar meu verdadeiro eu, ao mesmo tempo em que Te Conecta saía do forno. 

Sempre imaginei o quanto seria incrível sentar em uma mesa de bar com a Pitty e trocar ideia. Hoje não sei o que falaria, se tivesse a oportunidade. “Obrigada”, talvez, por me dar tapas na cara com De Você, me sacudir com Fracasso e dizer tanto o que eu jamais saberia como expressar e, principalmente, por ter essa mente meio perturbada. Brincadeiras a parte, não consigo definir com nenhuma palavra que não “gratidão” o apreço que eu sinto por essa banda ter estado presente e em sincronia com todos os meus momentos. Bons e nem não bons assim. Algumas músicas foram um verdadeiro prumo, capazes de me manter no chão e em mim mesma. Afinal, o que define sua banda predileta não é simplesmente um som da hora, mas conexão. Assim como o que distingue uma intérprete de uma artista é a capacidade de traduzir as experiências humanas em algo palpável, seja num quadro, num livro ou numa canção. E isso, Pitty sempre fez magistralmente.

Talvez ela nem saiba que escrevendo sobre seus sentimentos, dúvidas, constatações, tenha me ajudado (e não só a mim) a desvendar camadas de mim mesma que eu levaria décadas para entender sozinha. Meditação profunda no mais alto nível. Autoconhecimento. Eu aprendi muito cedo com as músicas que eu podia cantar baladas românticas e continuar sendo um ser humano, com as minhas complexidades, falando de assuntos além de relacionamentos. A mensagem por trás das músicas sempre me tocou intimamente. E continua tocando. O show de São Bernardo também foi lindo.

Mude sua relação com o dinheiro e sinta-se mais motivado a poupar!

Ouço muitas pessoas dizendo por aí que dinheiro não traz felicidade, e de certo modo elas estão certas: o dinheiro não traz felicidade, ele COMPRA felicidade! Mas as pessoas tem medo de falar que o dinheiro move montanhas e que elas gostam de ganhar dinheiro. Talvez elas achem que quando uma pessoa ganha muito dinheiro ela obrigatoriamente se torna o tipo de gente que gasta com coisas supérfluas, como investindo num carro caro que você não sai na rua dirigindo pois chama muita atenção ou numa mansão de 30 quartos em que só 3 serão ocupados, deixando os moradores solitários lá dentro. Elas acham que uma pessoa com uma boa quantia de dinheiro é, necessariamente, o tipo de pessoa que só pensa em poder. Enxergar o dinheiro de uma forma negativa é uma das piores coisas que você pode fazer consigo, pois isso poderá te levar a ser uma pessoa sem metas, sem objetivos, que não pensa em ganhar um bom dinheiro nem para realizar seus sonhos.

A mágica com o dinheiro é que ele realiza desejos e possibilita que você adquira experiências únicas. E nem estamos falando de tanto dinheiro assim: com cerca de 15 mil reais você pode passar férias memoráveis na Disney, conhecer alguns países na Europa, ou mesmo tirar férias em família em um resort no Nordeste do Brasil. Com meio milhão de reais talvez você consiga uma casa com piscina para receber os amigos e familiares, dependendo da cidade em que você mora!

116056b0ee6f7d1eb989738d5220e825.jpg

Então, se você acha que dinheiro é algo tóxico, que faz mal, considere começar a dizer que você gostaria de ter dinheiro o bastante para colecionar momentos únicos junto com sua família e amigos. Tente pensar em dinheiro como um  sinônimo de diversão. Para mim, o dinheiro nada mais é do que um meio de garantir experiências e momentos memoráveis com as pessoas que eu amo ter ao meu redor.

Considere que o dinheiro tem a relevância que você dá a ele. Não só o dinheiro, para falar a verdade. Se refletirmos, vamos compreender que as mais brilhantes invenções do homem podem ser negativas se mal utilizadas! Se você utilizar o dinheiro para proporcionar uma viagem incrível à sua família ou alguns amigos, então ele não será uma coisa ruim! Imagine a alegria dos seus filhos ou de crianças próximas a você quando forem chamadas a passar uma tarde na sua casa utilizando sua piscina. Imagine sua emoção podendo assistir a um jogo do seu time europeu preferido no estádio dele? Imagine as histórias que serão lembradas nas reuniões de família e amigos? O dinheiro ganho para viver experiências positivas, nunca te fará algum mal. Só não deixe que o dinheiro mande em você e seja você o responsável pelo valor que o dinheiro tem na sua vida! Tenha sonhos, objetivos, trace metas, poupe dinheiro e realize o máximo de coisas que você puder e, sempre que possível, utilize do seu dinheiro para ajudar a quem necessita!

Não tenha medo do dinheiro e não tenha medo de ganhar seu dinheiro. Procure ser criativo, tenha novos horizontes e não fique achando que a única forma de conseguir dinheiro é com seu trabalho de carteira assinada! Faça freelas, use seu tempo livre para criar seu próprio negócio, tenha novas ideias, leia livros que te ajudem nessas tarefas! E lembre-se: seu dinheiro não terá sido ganho em vão se você estiver pensando na alegria das pessoas próximas na hora de ganhá-lo. E divirta-se no meio do caminho. Não deixe que ganhar dinheiro se torne o objetivo principal. Tenha sonhos e faça seu dinheiro trabalhar para transformá-los em sonhos realizados.

 

Coisas que você deve fazer antes de começar a aprender Inglês ou outro idioma

De acordo com nosso cérebro, nada que nos leva a sentir raiva vale a pena tentar aprender! Se você se obriga a estudar e passa raiva aprendendo uma língua, você está aprendendo do jeito errado. Você já parou para pensar no quanto sabemos absolutamente tudo sobre algo que nos fascina e que quando não gostamos de alguma coisa sabemos pouco a respeito dela? A mesma coisa acontece com os idiomas: fica muito mais fácil aprender uma língua se gostamos dela e eu diria que essa é a única maneira de aprender a falar fluentemente um idioma!

A seguir, listei 5 coisas que você pode fazer antes de começar a aprender inglês – ou de escolher que idioma aprender – para facilitar sua aprendizagem e otimizar seus estudos:

Coisas para fazer antes de aprender inglês_

Dando uma olhada nas dicas, fica muito fácil de entender porque inglês é o idioma mais fácil para nós, brasileiros, aprendermos. Fica muito mais fácil criar uma imersão no idioma mesmo estando aqui no Brasil, pois importamos muitos elementos da cultura norte-americana e inglesa para nosso país. Somos fãs de bandas internacionais, apaixonados por séries que são lançadas no Netflix, assistimos diversos programas americanos na TV a cabo, temos muita vontade de conhecer locais nos EUA, como Vegas, Los Angeles, Miami e Orlando, enquanto muito pouco ou nada sabemos de países da Ásia, da América Latina e da Europa!

Se você vai aprender inglês, você precisa, no mínimo, gostar dos EUA e da Inglaterra! Descubra coisas que você admira sobre o países e sobre as pessoas. Digo isso pois vejo muita gente que aprende por obrigação e detesta os americanos e os EUA, que fala mal dos ingleses. Sinceramente, não dá para aprender inglês desse jeito! Foque nas coisas positivas que existem sobre os americanos, os ingleses, os canadenses e seus respectivos países! Eu, por exemplo, estou buscando a fluência sozinha e tenho me admirado muito com a mente empreendedora dos Americanos!

Para aprender a falar inglês com eficiência, você precisa aliar o seu aprendizado aos seus gostos pessoais. Isso significa que você deve se esforçar para encontrar conteúdo relacionado aos seus interesses em inglês e fazer do seu aprendizado uma forma de lazer e diversão. Gosta de esportes? Passe a acompanhar os esportes gringos! Gosta de cinema? Assista críticas de filmes em canais que falam inglês! E assim por diante!

Lembre-se também que após aprender um idioma você não será mais a mesma pessoa! Aprender uma língua diferente da sua, irá te modificar de diversas maneiras. Pense nas experiências que você terá caso viaje para um país novo que fala tal idioma e como essas experiências mudarão, para sempre, sua vida e quem você! Pense nas coisas novas que você aprenderá estudando um idioma e a cultura local. Não tem como aprender a falar verdadeiramente um idioma sem se identificar com os falantes nativos e sem amar suas descobertas! Por isso, vá fundo e não tenha vergonha de aprender e dizer que ama a língua que você aprende a pelo menos um dos países que fala o idioma!

Espero ter ajudado com dicas realmente úteis para seu aprendizado de idiomas! Se esse texto te ajudou de alguma forma, peço que você compartilhe com amigos que estejam em dificuldade de aprender uma língua ou que estão pensando em começar a aprender!

 

HIV? Conheça o canal do Youtube que vai te ajudar a ver o vírus com outros olhos!

O medo da AIDS passou e a falta de prevenção fez com que a doença voltasse a crescer entre os jovens brasileiros. Mesmo que esse assunto seja batido, que todo mundo saiba que deve-se usar preservativo, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre como o vírus pode ser transmitido, o que fazer se você for exposto a uma situação de risco, sem falar sobre o preconceito que sofrem as pessoas portadoras do HIV. Muitas pessoas não sabem, por exemplo, que não se pega HIV ao beijar uma pessoa soropositivo e nem que existe uma grande diferença entre HIV e AIDS!

É sobre esses temas e mais um pouco que fala Gabriel Estrela, um portador do vírus HIV no canal chamado Projeto Boa Sorte! O canal tem, atualmente, 22 mil inscritos e o Gabriel Estrela já conversou por lá com várias criaturas da internet como Jout Jout, Regina Volpato e até Wanessa Camargo! É um canal que recomendo tanto para portadores quando não portadores do HIV!

 

 

Você já parou pra pensar que marca você quer deixar no mundo?

Você já parou para pensar que marca você quer deixar no mundo?Como tem andado sua energia ultimamente? Tem reclamado muito? Esteve ficando viciado em encontrar defeito nas pessoas, nas coisas e no mundo? Tem sido ranzinza ou rude com as pessoas mais próximas? Pois é! Se você tiver dito sim para uma ou mais perguntas, você precisa começar a pensar nas lembranças que você quer levar desse mundo e que marcas você quer deixar no mundo! Você quer colecionar momentos incríveis ou momentos recheados de lembranças negativas?

Quando pensamos nas marcas que estamos deixando no mundo, naturalmente começamos a pensar melhor sobre nossos pequenos e grandes atos e, o principal, encontramos um norte. Passamos a enxergar a importância de agirmos de acordo com nossos valores e acreditarmos nas coisas que fazemos. Se pararmos e pensarmos em quais marcas deixaremos com as pessoas que convivem com nós e as consequências do nosso trabalho na sociedade que nos cerca, tenho certeza que seremos pessoas mais alegres, positivas, altruístas e felizes com nossas atitudes.

Por esse motivo, decidi listar as perguntas que passei a fazer a mim mesma muitas vezes com o intuito de me ajudar a ser uma pessoa mais agradável e de bem com a vida e espero que elas te ajudem nessa tarefa também!

happiness

Nos seus relacionamentos interpessoais, como você vem tratando as pessoas com quem convive? Quais recordações positivas você poderia guardar das pessoas e gostaria que as pessoas guardassem dos momentos que passaram com você? Está sendo grosso com seus subordinados no trabalho? Você quer que essas pessoas se lembrem de você como um chefe insensível, grosso, desagradável? Trate seus funcionários com respeito e, se você sente que pode ajudá-los, procure desenvolver suas habilidades e ajudá-las a crescer em suas carreiras.

Na sua casa, quais lembranças você gostaria que seus filhos guardassem de você? Você tem sido amigo dos seus filhos, compreensivo com eles? Os tratado como seres humanos e não como seres que você colocou no mundo só para fazerem as suas vontades? Como você quer que seus filhos te enxerguem?

Você tem sido um bom namorado ou boa namorada? Tem tido um bom casamento? Tem sido respeitoso, carinhoso ou colaborativo? Tem exercitado a paciência, tratado o outro com o cuidado que ele merece? Tem sido um bom amigo ou amiga – sem estar fazendo papel de trouxa? Comece pensando que o mesmo sentimento de tristeza que você sente quando alguém é grosso gratuitamente com você, as pessoas com quem você é gratuitamente grosso ou estúpido também sentem! E que com o passar do tempo, as ofensas e grosserias gratuitas, podem acabar virando uma bola de neve!

Quais são os ideais que você prolifera? O que você compartilha no facebook? Você expõe experiências e pensamentos alegres, mesquinhas ou negativos? Você tem defendido ideias preconceituosas, espalhado discurso de ódio na internet? Será que você está sendo injusto? Você tem alguma amizade profunda ou extremamente íntima? Você tem alguma inimizade? Será que vale a pena continuar apegado a ela?

Não julgue. Religiões. Opiniões. Estilos. Gostos musicais. Se interesse pelas pessoas, independente de qualquer dessas coisas. Entenda as pessoas. Busque ser mais empático. Você tem sido preconceituoso? Seja leve! Não exija das pessoas que elas estejam no mesmo nível intelectual que você para ser amigo verdadeiramente delas. Aceite que algumas pessoas tiveram menos oportunidades de estudo que você e menos acesso à cultura e aprenda a valorizar as pessoas por aquilo que elas são. Também não espere que as pessoas ajam de acordo com as expectativas que você têm delas. Cada um é seu próprio guia e cada pessoa tem o direito de escolher o que fazer da própria vida! Entenda que é normal se relacionar com pessoas que pensam diferente de você e não seja a pessoa que está sempre certa!

Você já parou para pensar nas lembranças que você gostaria de levar com você pra sempre ao morrer? Você quer ser uma pessoa agradável que vai ter compartilhado inúmeros momentos felizes, divertidos, honestos ou uma pessoa reclamona, grossa, que vai ser lembrada por todo mundo como uma pessoa que não é legal de chamar para um rolê? Saia mais, tenha amigos de diferentes tribos, não seja fechado para ritmos musicais! Descubra músicas de outros ritmos com as quais você se identifique! Cresça e aprenda com o máximo de pessoas que você conseguir conhecer!

Seja uma pessoa mais alegre. Alegre o tanto que for possível para você. E não trate mal, principalmente – mas não só – as pessoas que te tratam bem. A lei do retorno se aplica também ao modo como tratamos as pessoas: pense no modo como você gostaria de ser tratado e trate as pessoas; gostaria que as pessoas fossem simpáticas e afetuosas com você? Seja verdadeiramente simpático e afetuoso com as pessoas. Quer atrair pessoas divertidas? Está cansado dos seus amigos tão chatos quanto você? Busque estar próximo de pessoas que sejam mais divertidas e faça amigos novos! Se você sente que precisa evoluir, busque conviver mais com pessoas em quem você possa se espelhar naquilo que você precisa alcançar!

Isso não significa que você não pode achar nada ruim, que você vai ser um bobo alegre. Mas não se demore nas críticas, afaste o mais rápido que você conseguir os pensamentos negativos da cabeça e principalmente, evite discussões e birras que não vão levar a outro lugar senão a desgastes nos relacionamentos.

Você não quer morrer e estar pensando em todas as suas angústias, nas lembranças ruins da sua vida, e nas pessoas que te despertaram raiva e rancor.

P.S.: Se você gostou desse texto, compartilhe nas redes sociais e fique de olho pois, na próxima semana, haverá Parte II, em que falarei sobre profissão e escolha do que estudar na faculdade!

Marilena Chauí e a burrice da Classe Média

Faz já algum tempo que quero escrever a respeito de uma palestra da professora Marilena Chauí na qual ela fala sobre a ascensão do conservadorismo na classe média paulistana – e brasileira de modo geral. Nessa mesa redonda, Marilena Chauí exemplifica o quanto o encurtamento dos espaços públicos e o crescimento dos privados faz com que a classe média se torne cada vez mais reacionária, conservadora e truculenta.

Com o alargamento dos espaços privados em detrimento dos públicos, geramos cada vez mais desigualdade. Como diz Marilena Chauí em sua palestra, todos nós sabemos o quanto as escola públicas não prestam, e os colégios privados são muito melhores, e ainda o quanto o transporte público é precário e, tão logo, devemos todos sonhar em ter um bom carro. Desde crianças aprendemos o quanto os hospitais públicos são uma porcaria e o quanto é vergonhoso ter que ser internado em algum, e que, sendo assim, devemos pagar nossos planos de saúde e ter um atendimento muito mais rápido e eficaz para dos diferenciarmos dos pobres que morrem nas filas de espera e nos corredores de hospital. Sem falar na questão da segurança pública que faz com que os condomínios com muros imensos, aparatos de segurança de última geração e câmeras por todos os lados sejam considerados a oitava maravilha do mundo para a classe média.

O problema é que grande parte da classe média é incapaz de perceber que seu estilo de vida é um dos sustentáculos da criminalidade, que sem repensar a estrutura das cidades, a exclusão social, a periferia, a melhoria na distribuição de renda e, principalmente, a luta fracassada contra o tráfico de drogas, fica impossível criar um debate justo e coerente sobre os todos esses temas.

Marilena Chauí

Por falar que a classe média é burra, Marilena Chauí foi MUITO criticada pelos conservadores da direita. O que eles não entenderam – é claro, editaram a fala e colocaram em seus vídeos cheios de discurso de ódio só a parte em que ela grita a burrice da classe média – é que os espaços públicos são de todo mundo e que, em vez de criticarmos esses espaços e nos tornarmos reclusos de espaços particulares e exclusivos, devemos valorizar esses espaços, afinal, dizer que algo é público, não é dizer que é de ninguém. Reclamamos que não há boas escolas, mas não brigamos para que se tornem melhores: matriculamos nossas crias em colégios particulares e disputamos com os colegas do trabalho quem matriculou os filhos na melhor escola. Reclamamos que não temos bons hospitais, mas nos esquecemos de que o tratamento de HIV é todo feito pelo SUS, que temos hospitais públicos de referência para tratamento de câncer, doenças cardíacas, e que é graças a esse sistema público de saúde que vacinamos nossas crianças e erradicamos doenças que dizimaram populações no passado. Porque não miramos nos exemplos que deram certo e brigamos para que se tornem espelhos para os hospitais que precisam de melhorias? Apenas pagamos fortunas por nossos planos de saúde, contentes por podermos nos sobressair e sem perceber que nosso comodismo – ou o que mais você queira inserir aqui – nos faz pagar tudo duas vezes.

O que a Marilena Chauí quis dizer com aquele discurso é que a classe média não se identifica com os pobres, mesmo que tenha em comum com eles o fato de não ser burguesia. E que, com isso, deixa de lutar por melhorias nos espaços e serviços públicos, o que traria benefícios a ela. Lutar por melhores escolas é garantir que o pobre da periferia tenha outras opções de sucesso na vida além da criminalidade. Lutar por um transporte público de qualidade e ciclovias melhores é lutar por cidades com menos trânsito, menos estresse e mais qualidade de vida. Defender uma outra abordagem que não a guerra ao tráfico, é defender menos violência e com isso, mais liberdade, menos preocupações, menos gastos com aparatos de segurança.

Quem me dera se a classe média que a Marilena Chauí tanto critica conseguisse vislumbrar como a economia dos milhares gastos em serviços particulares, seria uma forma de juntar uns dólares a mais em sua próxima viagem a Miami.

 

Nós não somos racistas, só lamentamos que vocês não sejam bonitas como nós!

Hoje eu chorei assistindo na televisão um programa que mostrava uma menina, entre 13 e 15 anos, viciada em olhar fotos de modelos de revista e com uma auto-estima tão baixa que era incapaz de se ver no espelho. Se achava muito magra, sem graça, buscava alcançar um ideal de beleza inatingível, talvez possível com luzes, câmeras e photoshop, mas nunca sem as artimanhas do show business.

Era uma menina normal, cabelos lisos, escuros, pele branca, classe média, moradora de Londres. Mas, assim como ela, em outro continente, milhares de meninas aqui e espalhadas pelo mundo crescem se espelhando em modelos de beleza completamente doentios e irreais; quanto mais frustradas elas estão com a própria aparência, mais lucram as marcas de chapinhas, alisantes de cabelo, produtos milagrosos de beleza, maquiagens e cirurgiões plásticos. A essas meninas é ensinado que existe apenas um jeito de ser bonita: ser o padrão. E o padrão parece ser confuso propositalmente para que nunca se chegue a ele: não pode ser baixa nem alta demais, precisa ser magra, mas não esquelética, precisa ter bunda, peito, pra que tenham onde pegar. Os cabelos até podem ser enrolados, mas não muito, nada que pareça afro, porque cabelo afro é cabelo ruim!

067d33fa6ece3c48cb1776d3abb0615a

A garota que aparecia no programa me lembrou muito de como eu era na adolescência: completamente insegura, me sentindo um patinho feio e com uma auto-estima tão baixa que não conseguia olhar para uma menina bonita e popular da escola sem me sentir mal e obrigada a me comparar. Os cabelos cacheados, a pele escura, a baixa estatura, a confusão natural da idade, nada parecia ajudar. Acredito que assim como essa menina normal que não era necessariamente o padrão de beleza europeu, eu também fui uma adolescente a quem nunca buscaram ensinar que é possível ser bonita e se sentir bem fugindo daquilo que todos esperam de você. Meu ideal de beleza era a mulher branca ideal. Pintei os cabelos de verde, depois de azul e outras cores e, na rebeldia, encontrei uma maneira de descobrir quem era eu. Mas, ainda assim, seguia modelos brancos, modelos que não carregavam minha história nem minha etnia.

E quem era eu, afinal?

Descobri, depois de muita auto-análise, ser alguém infinitamente maior do que qualquer padrão. Alguém que existe independente da cor de pele, altura ou textura do cabelo. Entendi que o problema não é existir um padrão e sim permitir que, através dele, nos deixemos valorizar apenas as pessoas que atendem a ele. Porque isso nos faz, consequentemente, acreditar que só as pessoas que são um padrão é que merecem afeto, admiração e respeito. E respeito é um direito básico de qualquer ser humano. Admiração é algo que aprendemos quando enxergamos – mais do que olhamos – a individualidade de cada ser. E afeto é algo sem o qual, felizmente, a vida fica vazia sem. Corpos, são apenas corpos. Pessoas, são só pessoas. Cada uma tem sua história, e hoje, eu não aceito ser subserviente a ninguém e a nenhum padrão.

 

 

Dicas sinceras para você que é ou quer ser Youtuber!

DICAS SINCERAS (1)Olá, pessoas! Tudo bem com vocês?

No post de hoje, eu vim aqui dar algumas dicas SINCERAS pra você que já tem um canal no Youtube ou quer ter um canal num futuro não muito distante. Mas, como vocês devem saber, meu canal ainda é bem pequeno e que propriedade, enquanto criadora de conteúdo, eu teria para falar se meu próprio canal ainda nem faz muito sucesso?

Pois é! As dicas que eu vim dar para vocês são dicas de uma pessoa que acompanha muitos canais, que passa horas por dia vendo vídeos no Youtube e já nem assiste mais TV. Portanto, eu vim aqui contar o que me faz ser fã de um canal e o que me faz pular para o próximo vídeo! Leia o post até o final, que tem muita dica boa concentrada nesse post e coisas que você não vai ler em nenhum outro canal, porque aqui o papo é reto!

Pra começar esse assunto, eu gostaria de contar um segredinho pra você que fala por aí que criou um canal no Youtube porque ama o que faz, mas, na verdade, está ali no Youtube tentando ser famoso pra ganhar dinheiro: TODO MUNDO PERCEBE! E é por esse motivo que seus comentários estão cheios de pessoas que comentam sobre tudo menos sobre o assunto do seu vídeo e ficam te implorando pra que você se inscreva no canal delas também! Traduzindo: é por isso que seu canal está cheio de comentários de pessoas que estão cagando para o seu conteúdo!

cry

Você já parou pra pensar porque isso acontece com você? Bom, se você está passando por isso, provavelmente você é um daqueles youtubers que eu cansei de ver em grupos de trocas de inscritos, que tem o péssimo hábito de fazer um conteúdo bem bosta, quase sempre copiando algum youtuber que deu certo, e de um jeito absolutamente mau feito! A qualidade dos seus vídeos, muito provavelmente, é uma porcaria: áudio ruim, iluminação péssima, roteiro (que isso?) e edição precária! Isso sem mencionar o conteúdo!

Então, né? Ser youtuber não é tão simples assim! Você acabou de descobrir que não é só ter uma ideia boa (ou copiar uma boa ideia), gravá-la em frente a uma câmera e upar para o Youtube!

Por mais que você não precise ter uma câmera excelente para gravar, uma ring light profissional, e um microfone, caso você queira que seu canal tenha um público que te acompanhe e consiga algum crescimento, é importante que você aprenda a extrair o melhor dos equipamentos que você tem. Se você grava com o celular, tudo bem, mas:

  • Veja um tutorial de como fazer uma soft box com caixas de papelão, improvise, e faça um vídeo com uma boa iluminação ou grave próximo a uma janela!
  • Procure gravar num ambiente mais silencioso e regravar as partes em que algum barulho aparece no seu vídeo.
  • Tente organizar o ambiente onde você fará a gravação e, se possível, ter um local só para isso! Você pode ver algumas dicas de decoração para home office! Afinal, ninguém vai prestar atenção em você com uma bagunça no fundo chamando a atenção.

ho

  • Corte seus vídeos e corte sem medo! Ninguém vai achar legal ver todas as vezes que você errou na frente da câmera, esqueceu do que ia falar, que alguém te chamou, que algo caiu. Isso queima o seu filme, tira sua credibilidade!
  • Aprenda sobre RITMO! Não é só música que tem ritmo, os vídeos também precisam ter!
  • VINHETA TEM NO MÁXIMO 8 SEGUNDOS!
  • Não seja prolixo! Detesto vídeos que demoram dois minutos pra começar! Comece o quanto antes a falar o que tem que ser dito, sem ficar dando muitas voltas, sem tornar sua fala cansativa e sem falar muito devagar, porque seu vídeo vai se tornar chato e vídeo chato não vai pra frente nem que você tenha o melhor conteúdo! prolixo

E agora que você já sabe que precisa melhorar a qualidade técnica do seu canal, vamos falar sobre o conteúdo ruim que você vem fazendo!

Você sabia que a cada minuto, mais de 400 horas de vídeo são enviadas ao YouTube? Sim, então, qualidade técnica não é tudo! Você precisa de um conteúdo bom de verdade e pra isso você vai precisar sentar, pesquisar e escrever roteiros para se destacar em meio a tantos vídeos.

Outro ponto é: é impossível fazer um conteúdo interessante se você não for uma pessoa interessante. Lembre-se de que acima de todas as dicas que você ler e assistir por aí, o que manda é você investir em você e no seu desenvolvimento pessoal!

Quanto mais conhecimento, cultura e base você tiver, mais relevante será o seu conteúdo, então, bora estudar, gente! Esqueçam que estudar é sinônimo de ir pra escola e aprender coisas que vocês não gostam! Leiam muito, escrevam, aprendam com a internet sobre as coisas que vocês gostam! E vamos às dicas:

  • Estude o assunto do qual você quer falar! Sabe na escola, quando alguém vai apresentar um seminário e não faz a mínima ideia do que vai falar, então fica lendo? NÃO SEJA ESSA PESSOA! Vai falar de um filme? Saiba antes de começar a gravar o que você quer falar sobre ele! Vai falar de um produto de cabelo? Saiba pelo menos o essencial daquele produto ANTES de gravar seu vídeo! Quem vai te dar credibilidade se você ficar lendo o rótulo do produto na frente da câmera? Se eu perceber qualquer coisa dessas, com certeza vou dar pause no seu vídeo e procurar algum outro no qual a pessoa tenha pelo menos um pouco mais de propriedade sobre o que está falando! giphy (3)
  • Tome cuidado com o PORTUGUÊS! Se você é daquelxs que acham que prestar atenção nas aulas é besteira, acabou de descobrir que não é! Falar com clareza, boa dicção, saber como usar sua língua para se expressar corretamente, é o mínimo que quem assistir seu canal espera encontrar! Ou seja, use gírias com moderação, procure não falar “pra mim fazer” e não cometer outros erros grotescos, pois você vai ser julgado por isso! Tem dúvida se está certa a forma de falar? Pergunte para o Google!
  • DICA DE OURO: Você está lá gravando o seu vídeo e precisa falar o nome de um ator em inglês que você não tem a mínima de como se pronuncia? Acessa o próprio Youtube, procura uma entrevista com essa pessoa e veja como o entrevistador pronuncia o nome! Assim você evita passar vergonha!
  • Quando você assiste um vídeo até o fim, você assiste por quê? Provavelmente, porque a pessoa que está ali apresentando um conteúdo tem algum carisma, sabe do que está falando, está te esclarecendo alguma dúvida, está ensinando algo que você quer aprender, não é mesmo? Então o que os seus vídeos estão agregando a quem assiste? FAÇA UM CONTEÚDO QUE INTERESSE PARA QUEM VAI ASSISTIR. Por que alguém que não seja da sua família vai querer ver um vídeo dos seus filhos abrindo presentes de aniversário ou brincando num parquinho? Por que alguém vai querer ver você pilotando sua moto velha?  Seu vídeo agrega o quê? Pense nisso: o que meu canal tem de diferencial, o que ele agrega na vida das pessoas? Deixe para fazer vídeos mostrando uma viagem, seu carro novo, coisas da sua vida, quando você já tiver um público que queira ver esse conteúdo. Afinal, nem você vê um vlog de um Zé Ninguém mostrando o domingo dele na praia, négiphy (4).gif

Espero que vocês tenham gostado das dicas e que elas sejam úteis para o crescimento do canal de vocês! Minha motivação para escrever esse post é ver que tem muita gente fazendo vídeos de péssima qualidade tanto técnica quanto de conteúdo e se iludindo acreditando que divulgando seus vídeos em grupos de compra de likes e seguidores, irão fazer sucesso, ganhar presentinhos de marcas e lucrar com a monetização dos vídeos! E eu não aguento mais ver tanto conteúdo porcaria tomando conta do Youtube!

Ter um canal no Youtube, penso eu, não é para qualquer pessoa, como muitos vendem por aí! Cria um canal de sucesso quem sabe POR QUE está criando. O dinheiro com o Youtube pode chegar um dia, mas há formas muito mais rápidas de se ganhar dinheiro. E para aqueles que fazem pela fama, reflitam se esse é o caminho que vocês querem seguir, afinal, se você está se expondo só pela fama, imagine quando você entender que a fama não virá ou que com o lado positivo da fama, vem também o lado negativo? Críticas, haters, tudo isso fica muito mais contornável quando você sabe seus motivos para aguentar essas coisas diariamente!

Todos os exemplos que usei, de pessoas que não editam os vídeos corretamente, que se dispõem a falar de um produto e ficam lendo o rótulo na frente da câmera, que fazem vídeos em que a gente se pergunta porque a pessoa se deu o trabalho de fazer, são exemplos reais que vi por aí vasculhando o Youtube!

Se você leu o post até o final, vou deixar alguns canais aqui embaixo que podem te ajudar a melhorar a qualidade dos seus vídeos!

 

Bibliotecas no Booktube? Será que está faltando falar delas?

Olá, pessoas!

Ontem saiu um vídeo no canal no qual eu mostro pra vocês três livros que peguei emprestados na biblioteca de São Paulo e faço uma breve discussão sobre a ausência de bibliotecas no Booktube!

Pra quem não conhece o termo, Booktube é um nicho do Youtube no qual as pessoas falam apenas sobre livros. Tem diversos canais literários lá, cada qual com seu foco, mas o que todos têm em comum é: nunca mostram bibliotecas! E eu sinto falta disso!

Dê sua opinião: você gosta de ir a bibliotecas? Acha que os canais no youtube poderiam incentivar mais as bibliotecas?

 

No olho do furacão

No olho do furacão fica difícil de enxergar. Fica difícil de te ver. Fica difícil concluir se sou teu amigo homem, ou se você joga os dados para eu brincar. Fica difícil te decifrar, interpretar suas ações, teu jeito, tua fala…

No olho do furacão eu me sinto tirando os pés do chão, perdida na confusão da minha própria cabeça, que às vezes é lúcida mas que às vezes também me prega peças, como aquele sonho meio impróprio que tive com você.

d616bb6d1aa489f667c1f546eaa92db9

E essa coisa de sonho, de percepção, de enxergar as pessoas acontece sempre num tom jocoso: ninguém é de fato aquilo que parece ser. E no fundo a gente se encanta com nosso modo de ver as pessoas. Tudo é um conjunto. O modo de rir, o jeito de falar, as piadas sem graça, a fragilidade que o outro mostra ao tentar ser mais duro e mais coerente do que realmente é e o modo como lidamos com essas pequenas idiossincrasias, com as sensações que esses detalhes nos proporcionam.

E nessa mania de iludir a si mesmo é que a gente tropeça nas palavras, desvia o olhar, perde a fome, o sono, o fôlego, sente essa necessidade absurda de encontrar essas emoções no olhar do outro também. A gente se encanta com quem a gente é ao lado daquela pessoa, com as nossas expectativas em relação a ela, com nosso sorriso besta no canto dos lábios. Podia bem ser um infarto, mas a gente fica e com a pulga atrás da orelha pensando se não é, de fato, amor.

E geralmente é. É a hora de dar passos para trás ou olhar de frente. É a hora de decidir ir embora ou ficar.

E eu realmente gostaria que você me dissesse para ficar. Mas eu vou…

As fotos têm mais sabor do que a comida

Já faz algum tempo que ando mais de saco cheio do que de costume e venho notando o quanto é cansativo estar rodeada de relacionamentos artificiais, que se criam por pura conveniência, cercada por comportamentos mesquinhos e comentários cheios de veneno. Esse tipo de convivência tóxica faz mais mal do que cigarro, e geralmente quando notamos que fazemos parte dessa redoma de maldade, é sinal de que já estamos afundados, viciados em fazer comentários medíocres sobre a vida de pessoas que nem sequer nos interessam, apenas porque elas cometeram o imperdoável erro de viver uma vida diferente das nossas. Sempre chego à conclusão de que essa mania de ficar criticando os erros ou acertos dos outros nos suga toda a liberdade de sermos aquilo que realmente somos.  Se eles não estão livres, então nós também não estamos.

c3fe1b9aa4f95bcad69b5594c5b66c3f

A questão é que ninguém mais parece capaz de agir gratuitamente por mero prazer ou por gentileza. A empatia anda em falta e tudo tem um preço, inclusive as pessoas – um preço bem baixo, eu diria: o status. Tem se tornado cada vez mais difícil encontrar boas companhias, aquelas com as quais passamos horas simplesmente falando e terminamos com a sensação de que fomos compreendidos. Têm se tornado raros  os encontros com alguéns que se identificam com nosso modo de pensar, agir e sentir as coisas e, finalmente, com as quais as pequenas convenções sociais acabam sendo deixadas de lado. Um cabelo bagunçado, uma barriga à mostra, estrias brancas na bunda. Pessoas que apreciam nossa companhia e não estão sempre à espreita aguardando nossa primeira falha para soltar comentários desnecessários e cheios de maldade. Pessoas que tiram fotos para guardar recordações, que cozinham e consomem até o que ainda não passou pelo raio gourmetizador, que sabem elogiar com sinceridade sem esperar outra gama de elogios em troca. Pessoas que nos sentem, que nos enxergam.

As pessoas hoje não têm qualidades, têm utilidades. As fotos têm mais sabor do que a comida, o casamento mais importância que o amor, o dogma mais significado que Deus. É assim que as coisas são. Todo dia milhares de pessoas, como diria Bukowski, carregam um monte de merda dentro da barriga, mas fazem questão de fingir que não as cagam. Tentam mostrar que possuem mais amigos, mais influência, mais poder de compra, que contam as melhores estórias e, no final, vivem as mesmas vidas amargas que vivemos, com as mesmas pressões e o mesmo fim.

Extraordinário e o Capacitismo!

Extraordinário estreou hoje no cinema e, infelizmente, não pude estar lá na estréia. Esse foi um livro que, desde que terminei de ler, quero ver uma adaptação para o cinema e vou assistir assim que eu puder!

O livro, escrito pela autora R.J. Palacio e publicado aqui no Brasil pela editora Intrínseca, vai mostrar a jornada de um menino de 10 anos, chamado August Pullman, que é portador de uma anomalia genética que fez com que sua característica mais notada fosse o rosto: Augie tem várias deformidades no rosto e as pessoas se assustam perto dele e o evitam pois se sentem desconfortáveis ao terem que olhar para ele. Mas Auggie não é apenas a deficiência dele! Ele é um garotinho incrivelmente inteligente, que como qualquer outra criança, está ansioso para seu primeiro dia de aula na vida, aos 10 anos de idade!

Apesar de mostrar uma história de superação – coisa que deixa muita gente enfurecida – o livro tenta mostrar para as pessoas como o capacitismo não faz sentido e machuca quem sofre com ele. Capacitismo é o nome dado à discriminação que os portadores de deficiência sofrem diariamente. Ser capacitista é tratar a pessoa com deficiência como inferior, como incapaz, como coitada e, também, como exemplo de vida e superação – afinal, esse é o único lugar que cabe a essas pessoas.

No livro vamos perceber como se sente esse personagem, que mesmo criança, já é vítima de tanto preconceito. Como temas centrais desse livro temos a inclusão, o bullying, a educação de crianças com deficiência, o papel da família na formação do portador de deficiência, a falta de preparo da sociedade e das escolas para lidar com deficiência, além da falta de orientação para o convívio saudável entre pessoas portadoras e não-portadoras de deficiência.

É um livro que, sem dúvidas, você deve ler. De preferência, antes de ir no cinema assistir ao filme!

 

Livros com personagens gays!

Se existe uma coisa que eu gosto na vida é de ser surpreendida por livros.

A Literatura LGBT – termo com o qual eu discordo – tem crescido muito e trazido alguns títulos incríveis! Nesse gênero literário você vai encontrar protagonistas homossexuais que irão dividir com você seus dilemas, seus pontos de vista e suas histórias!

Nesse vídeo eu mostro para vocês três livros LGBT que tive o prazer de ler esse ano e que tenho certeza que vai te deixar querendo ler mais livros recheados de inclusão e personagens cativantes!

Relacionamentos Abusivos? Venha conhecer Amor Amargo, um livro que vai te levar ao limite das suas emoções!

Depois de muito tempo venho aqui contar para vocês que criei um Canal Literário no Youtube! No vídeo dessa semana, falo de um livro Jovem Adulto que, apesar de falar com um público jovem, traz um tema extremamente tenso e importante: relacionamentos abusivos!

Nesse livro vocês irão se chocar com a história da Alex, uma jovem de 17 anos, que se torna vítima de violência doméstica!

Inscrevam-se no canal, porque garanto a vocês que vídeos novos com conteúdo super legal estão sendo preparados e tenho certeza que ninguém vai querer perder!

Algumas reflexões feministas

Antes de sequer pensar na palavra “feminista” como definição, eu já era bem feminista. Imaginava que, se aos 16 anos eu era madura o bastante para ter responsabilidades e rotinas de um adulto, como sair cedo, cumprir obrigações e voltar pra casa no horário de pico, poderia ser considerada madura o bastante também para ser dona de mim mesma, decidir sobre o meu corpo, sobre minhas escolhas afetivas e para ter o controle sobre minha sexualidade. E foi então que decidi encontrar um ginecologista que pudesse me deixar mais segura em relação a essas questões e descobri que muitas adolescentes não têm esse direito: ao invés de médicos, muitas vezes encontram fiscais de seus corpos. Foi o que aconteceu comigo.

Eu estava cansada de sofrer com cólicas infernais, com as alterações de humor que eu já não suportava, queria saber que tipo de distúrbio me afetava, se eu tinha algum problema, aprender a lidar com meu corpo em mudanças e, quem sabe, resolver as inseguranças que eu tinha por não saber como lidar com meu próprio corpo. Queria começar a tomar pílula anticoncepcional, já havia lido na internet sobre interromper o ciclo menstrual, mas todas as minhas expectativas foram frustradas quando entrei no consultório de uma médica de postura absolutamente machista e tradicionalista. Era a ginecologista que minha mãe frequentava há anos.

No consultório minha mãe teve que me autorizar a entrar sozinha na sala da médica. Eu tinha passado a noite anterior sem dormir, inclusive, listando tudo o que eu queria saber. E lá fui eu, confiante, apesar de bastante envergonhada, pensando que resolveria uma parte da minha vida naquele dia. Contei para a médica sobre as cólicas,o ciclo irregular, perguntei sobre a possibilidade de pílula anticoncepcional, porém tudo para a ~doutora~ não passava de frescura. Como eu, adolescente, poderia perder o tempo dela com minhas dúvidas idiotas? Eu nem dona do meu próprio corpo era. Tudo era normal: as cólicas e o ciclo irregular eram parte do fardo que eu deveria enfrentar até a menopausa porque Eva mordeu uma merda de uma maça. Eu deveria me conformar. Sexo na minha idade, então? Nem pensar. Minha sexualidade foi absolutamente tratada como tabu, como se sequer existisse.

Sozinha numa sala impessoal, com uma estranha tomando propriedade do meu corpo e me julgando, me senti coagida a mentir sobre diversos pontos e fui embora frustrada, me achando uma hipocondríaca e nunca mais voltei a médico nenhum até bastante tempo depois. Quando voltei, foi para descobrir que aquela médica me deu diagnósticos completamente equivocados.

O corpo feminino é extremamente complexo, todas as semanas passa por mudanças e isso acaba refletindo diretamente em nossa auto-estima e na maneira como lidamos com a nossa sexualidade. Naquela ocasião, fui embora me sentindo extremamente culpada e amedrontada. É assustador não saber o que se passa consigo e achar que você pode ser punida por exercer sua sexualidade. E pior não poder falar sobre virgindade, sobre sexo, com o profissional que deveria nos proporcionar segurança e informação a respeito desses tópicos, afinal, eles fazem parte do leque de assuntos mais relevantes durante a adolescência.

Por isso, hoje eu busco ao máximo lidar com profissionais que não me vejam como uma incubadora e não objetifiquem meu corpo e minha sexualidade. Infelizmente, a maioria dos profissionais da ginecologia não se diferenciam dessa doutora e de tantos médicos que frequentei e acabei sentindo que perdi meu tempo. E sei que, embora preservativos sejam distribuídos em qualquer UBS, a amplitude dos métodos contraceptivos é negada a muitas adolescentes simplesmente porque há péssimos profissionais responsáveis por lidar com a saúde íntima feminina. Há despreparo da família, dos médicos, das escolas e tudo contribui para que sejamos reféns de uma estrutura machista e arcaica. 

Se esses médicos tratam adolescentes como se elas não tivessem direito à sexualidade ou como se sua sexualidade fosse um erro porque precisam ir em busca de métodos contraceptivos ainda muito jovens ou porque engravidam, obviamente não serão bons profissionais para lidar com a saúde das mulheres adultas. Nas salas de parto ainda insistem em fazer episiotomia sem que a mulher ao menos possa consentir ou ser avisada e nos consultórios médicos acabamos entupidas de remédios sem saber as causas das mazelas que afligem nosso corpo. 

Somos conduzidas a procedimentos traumáticos, a cesarianas desnecessárias, a remédios que vão tratar sintomas e não causas, sem que nos seja oferecida qualquer alternativa. E, o mais preocupante, é que para que tenhamos acesso a profissionais qualificados prontamente, temos que desembolsar. E nunca sai barato o que deveria ser gratuito e de acesso a todas nós.

Filme da semana: E se eu ficar (2014)

Estou me desafiando a assistir um filme por dia até o final do próximo ano. Será que consigo? Se serão 365 filmes assistidos, não garanto, mas, como acredito que conhecimento não compartilhado não serve para coisa alguma, toda semana irei dividir com vocês aqueles de que mais gostei. Há tempos não escrevo sobre filmes e livros favoritos. Isso deve mudar.

Por recomendação de um amigo assisti a um filme que você não deve assistir sem uma caixa de lenços ao lado. Você vai chorar! Chama-se Se eu ficar. Lançado em 2014, o filme foi baseado no livro de mesmo nome, escrito pelo autor Gayle Forman e terá uma continuação, pois o segundo livro da série, Para onde ela foi, já foi lançado.

Fazem parte da trama a atriz Chloë Grace Moretz como Mia Hall e Jamie Blackley como Adam Wilde. Na história, Mia é uma jovem de 17 anos que toca violoncelo, enquanto Adam é o vocalista de uma banda que está se destacando e começando a fazer sucesso em Portland. Os dois se apaixonam, mas tudo muda quando Mia sofre um acidente trágico que mata toda sua família. Então, em coma, ela busca reviver os momentos de sua vida enquanto decide se irá acordar ou não.

Comecei a ver o filme pensando que seria mais um blá blá blá de adolescente, mas acabou me surpreendendo. Primeiro porque os atores são mais profundos do que parecem, depois porque o filme não segue uma linha cronológica firme, o que causa muita tensão e expectativas: ficamos ansiosos para saber o que acontece com Mia após o acidente e somos impedidos pelos flashbacks. A trilha sonora também é sensacional e um dos momentos mais incríveis é a cena em que os personagens fazem uma versão de Today, do Smashing Pumpkins.

Fiquei inclusive com vontade de ler os livros, apesar de ter lido críticas dizendo que o filme acaba sendo melhor por causa da trilha sonora. Mas quero saber o que irá suceder na segunda parte da história. O final me deixou muito ansiosa. Nesse fim de semana também revi “Amizade Colorida” e “Borat”, dei muitas risadas e o filme faz uma crítica espetacular!

Suicídio assistido

Durante essa semana muita polêmica foi levantada com a notícia de uma norte-americana de 29 anos que cometeu um suicídio assistido após descobrir um câncer no cérebro que a tornou uma doente terminal. O procedimento é liberado em alguns poucos estados americanos e foi a escolha da moça. Após colocar em prática sua lista de “Coisas para fazer antes de morrer”, ela morreu confortavelmente em sua cama, ouvindo suas músicas prediletas e ao lado das pessoas que mais estimava.

Por outro lado, há pessoas que não estão doentes, mas morrem lentamente em vida. Não arriscam, não quebram regras, não contradizem a si mesmos sem sofrer por dias com a culpa. Não viajam sem planejar por meses, não reciclam as ideias, se acuam diante do novo. Outras passam por cima da ética, da justiça e de si mesmas para não bater de frente, para manter a ordem e a conveniência. Gente que teme suas próprias emoções e é escrava de convicções baseadas em uma porção de regras inventadas. Gente que não subverte, não petisca, não muda nunca. Gente que se enfadonha de si mesma.

                          As melhores lembranças surgem das piores ideias.

Se regras e o controle são necessários, a loucura também o é e já sabiam disso os religiosos cristãos na Idade Média. A Festa dos Loucos, evento que fazia parte do calendário cristão, reunia três dias de loucura, vinho, e tudo mais “para que a insensatez, que é nossa segunda natureza, e inerente ao homem, pudesse se dissipar livremente pelo menos uma vez ao ano. Barris de vinho de tempos em tempos estouram se não os abrimos para entrar um pouco de ar.”. Sabia-se que a loucura era necessária para manter a ordem quando a ordem fosse essencial.

E voltando ao tópico do post, me soa paradoxal esses tantos julgamentos feitos a respeito da decisão tomada pela norte-americana de encerrar sua própria história, de ser condutora de sua própria jornada em rumo ao seu próprio destino ao invés de aguardar sua hora escrita nas estrelas. O suicídio em doses homeopáticas de apatia e conformismo diante da vida e de nós mesmos me soa ainda mais grave. Não estamos doentes, afinal.

Obrigada, patriarcado, por me fazer um pedaço de carne fritando a 37,8 graus!

São Paulo. Sexta-feira. 37,8 graus. Acordo cedo, brindando ao fim de mais uma semana e escolho um vestido laranja, com desenhos da Frida Kahlo de estampa. Visto, tomo café da manhã, escolho os sapatos correndo e enfrento mais um dia de suor no transporte público entulhado dessa cidade, rumo ao trabalho. No rosto, apenas um óculos de sol e uma maquiagem leve pra não derreter com o calor. Assim que entro no ônibus noto olhares que me desagradam. Desço do ônibus e preciso andar cerca de 300 m até o prédio onde trabalho, em plena Anhaia Mello. Na calçada, sou distração para os motoristas estacionados no congestionamento. Ando o mais rápido que posso. Na volta para casa, a mesma coisa. Entro no ônibus e tenho que ficar me esquivando dos olhares de um sujeito que dava um jeito de me incomodar mesmo eu estando de costas para ele e com fones de ouvido. A bolsa transversal cobrindo a bunda pra não ser tão encoxada.

Esse é um relato meu, falando sobre hoje, dia em que escolhi usar um vestido de tecido leve, depois de ter me arrependido de sair de calça e morrer de calor a semana inteira para não me estressar com esses olhares constrangedores, mas poderia ser uma história vivenciada por qualquer uma de nós. Como prova disso, bastou abrir o twitter para ler o seguinte relato:

Assedio 2 Assedio

Por diversas vezes me sinto repetitiva, chata, porém nem para todo mundo é óbvio que mulher também sente calor. E que se eu saio debaixo de um sol de 37,8 graus usando vestido é porque quero trabalhar mais confortável e não chegar ao trabalho com queda de pressão e transpirando as 8 da manhã. Pra muitos não é obvio que o fato de eu estar de vestido e levemente maquiada, usando um batom, não significa que quero chamar a atenção de algum homem.

E diante de situações como essas, tudo o que sinto é raiva, muita raiva mesmo e a sensação de impotência. O que fazer? Xingar o imbecil que te chama de gostosa na frente da portaria do seu trabalho e mostrar o dedo do meio, pra ouvir risadinhas dele em troca e ainda ficar parecendo uma maluca? Ou não fazer nada e ficar achando que dá brecha para o babaca acreditar que está te elogiando? E ainda se conformar com machista dizendo que se tomei cantada é culpa minha, que eu devia usar calça – ou quem sabe uma burca – para não sofrer esse tipo de violência? Passar calor e ainda me sentir feliz por culpabilizada ao sofrer assédio?

Assédio não é elogio, não é flerte. Assediar com olhares constrangedores, tirar foto por baixo da saia, chamar de gostosa na rua reduz a mulher a um mero ser sexual, com uma função apenas: servir de enfeite. Objeto que usa um vestido, que passa um batom para satisfazer o prazer masculino. Não devemos nos cobrir ou inventar ar condicionado acoplado à roupa, e aceitar ficar espremidas dentro de um vagão rosa para deixar de sofrer esse tipo de agressão. É preciso educar e repetir quantas vezes for necessário que a culpa por existir essa porção de abusadores nos transportes públicos, desde os que olham e dão risinhos, aos que violam de fato a nossa integridade, não é nossa culpa. É culpa do desrespeito e da cultura do estupro.

Minha sudorese não tem a ver com você, machistinha de merda! Meu calor não existe pra ser seu fetiche doente!

A (não) sexualidade da mulher

Sou feminista porque, dentre outros motivos, a vida inteira fui e vi mulheres sendo tratadas como seres sem sexualidade. Parece que foi ontem que eu, em meus quatorze ou quinze anos, frequentava a escola e me sentia excluída das aulas de biologia destinadas à uma ~tentativa~ de orientação sexual. Nessas aulas nunca  ouvi temas relacionados ao orgasmo feminino, à masturbação feminina ou nada que tivesse relação com a libido que as garotas presenciam na adolescência tanto quanto os garotos. O clima era tenso e a sensação era de que aprendíamos minimamente sobre sexo para temer sexo. Os garotos não. Eles podiam falar de bronha, era feita vista grossa quando eles tomavam viagra e ficavam exibindo seus membros sob a calça de tactel do uniforme escolar e levavam escondidas suas revistinhas pornográficas. Nunca ouvimos palestras sobre consentimento, mas nós, meninas, sempre ouvíamos instruções sobre o quão perigoso era andar desacompanhada, sobre o quão preocupante era nossa relação com álcool e todo aquele blá blá blá sobre culpabilização da vítima mulher que todo ser do sexo feminino conhece. Entre minhas amigas, a maioria de criação machista, um mero absorvente interno era tabu. Temia-se que um O.B. fizesse o hímen se romper, como se este, oras, fosse patrimônio do homem que “tiraria nossas virgindades”, afinal, a sexualidade feminina para poder se afirmar, precisa ser descoberta através de um homem. Ser lésbica, jamais. Siririca, nem pensar.

Ontem, durante meu momento de procrastinação, resolvi dar uma pesquisada nos temas que circulam sobre “Saúde Feminina” no Yahoo Respostas e acabei horrorizada com a quantidade de meninas sem qualquer orientação sobre temas que deveriam ser banais. Garotas de 13, 14, 18 anos assustadas com probleminhas femininos que facilmente seriam solucionados por uma visita de 15 minutos a um ginecologista e uma receita de pomada inofensiva e indolor. Ou que, às vezes, nem são problemas, são apenas nosso corpo. Deixam de ir ao médico por medo, vergonha, culpa, por temer represálias da mãe, por falta de autonomia sobre seus próprios corpos. São essas meninas que engravidam cedo por falta de orientação e prevenção adequada, ainda que tenham acesso à internet. Garotas que, como eu e muitas amigas, saíram horrorizadas da primeira visita ao ginecologista por termos nos sentido absolutamente constrangidas a responder perguntas quase inquisitórias como: você já fez sexo? usou preservativo?, nos fazendo sentir que transar fosse algo muito errado, como se valesse mais a nossa idade do que nossa maturidade para iniciar a vida sexual. Ignora-se a sexualidade feminina para evitar ter que lidar com ela. Se os médicos, que deveriam estar preparados para lidar com o quesito educação não estão, quem então estará?

Esses são apenas alguns exemplos do quanto à mulher é negado o direito de acesso ao próprio corpo, à sua autonomia e sexualidade. Acontece a negação desses direitos a cada vez que vamos ao médico por uma simples dor de garganta, pegamos a receita de um antibiótico, e o médico nem sequer nos informa que pode haver interação com a pílula anti-concepcional, porque nossa sexualidade é invisível e problema nosso se ocorrer uma gravidez indesejada: “na hora de dar foi bom, não? Se tivesse fechado as pernas!”. Acontece toda vez que abrimos uma revista destinada ao público feminino e fala-se tudo sobre sexo menos o primordial: que é impossível aproveitar o sexo sem antes aproveitar a si mesma e sempre que vemos um pornô e foi desenvolvido para o público masculino. Brochamos. Ocorre sempre que mulheres que não se adaptam à anti-concepcionais hormonais procuram ajuda médica para encontrar um outro método eficaz e não o conseguem porque os valores são inacessíveis e o Estado não os provê. A mulher não tem sexualidade para a indústria pornográfica e nem para o Estado.

Precisamos romper essa redoma de silêncio. Dialogar com as amigas, fazer verdadeiras excursões às Sex Shop espalhadas por aí sem medo de sermos felizes, descobrir a literatura erótica esquecida nas estantes das livrarias É necessário cessar a invisibilidade que se inicia no momento que temos o nosso lado mais genuíno apagado por uma cultura machista. Se, por um lado, somos vítimas desse tipo de construção, por outro, podemos e devemos utilizá-la a nosso favor como um meio de empoderamento da mulher e do ~universo feminino~. Escrevi esse texto por mais Oficinas de Siririca acontecendo por aí e pra que, em um futuro não tão distante, nenhuma mulher sofra slut-shaming por usar um O.B. ou tenha que se ocupar com os fiscais de sua (não) sexualidade.

 

 

 

Assisto e recomendo: O Negócio – Série Nacional no HBO

Aproveitando a noite de sábado, passei aqui para fazer algo que há séculos não fazia: recomendar uma série nacional incrível chamada O Negócio. Criada por Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, a série estreou em agosto de 2013 e agora está em sua 2ª temporada, causando muita polêmica e recheada de cenas quentes.

A história conta sobre três mulheres, Karin, Luna e Magali (Rafaela Mandelli, Juliana Schalch, Michelle Batista), que buscam dar uma guinada em sua profissão. Acontece que as três são garotas de programa e, em meio ao caos aéreo de São Paulo, dão início a uma carreira de muito sucesso.

O que me chama a atenção na série é ver a prostituição sendo tratada por um ponto de vista ao qual não estamos acostumados: as profissionais são mulheres seguras, donas de si mesmas, que não adentraram o mundo da prostituição devido a qualquer tipo de opressão. Elas querem dinheiro, querem independência, e a prostituição nada mais é do que sua forma de empoderamento.

No mais, a produção é muito bem feita, provando que o Brasil é capaz de criar entretenimento genuíno, de qualidade e encontrar um público assíduo e fiel.

Metáforas…

Esquecer um amor que te machuca, se livrar de um sentimento que te corrói é como uma cirurgia. No início a ideia assusta e, depois, a cicatriz pode doer por um tempo. Mas, provavelmente, abrir uma ferida e arrancar de dentro o que há de errado é o que irá te salvar e garantir que os próximos anos possam ser vividos.

Crônicas de um amor clichê

Ainda me lembro daquela tarde de café no Starbucks e a nossa foto tirada no espelho. Não bastasse todo o clichê de filme americano, eu também achava que estava diante do único ser humano que poderia compreender meus clichês existencialistas. Mulher-independente-segura-cheia-de-si-e-de-aço-com-vontades-próprias-mas-que-também-quer-um-amor-porra. Tão simples, não? Não. Confirmado à contra-gosto o clichê de que homem teme sim mulher que sabe de si e impõe suas vontades e que mulher, claro, adora fazer cena pra ver se no desfecho se sente um pouco mais amada. Outro clichê que confirmo com vontade é que mulher sempre enfia o pé na jaca com menos cuidado. Se doa, imagina, faz planos enquanto arruma o formato da sobrancelha sozinha diante do espelho e, se não tomar cuidado, se frustra.

Nunca soube conduzir muito bem o raciocínio, mas o que me parece, é que os poetas e seus clichês estão todos certos. “Amor é um cão dos diabos”, ou seja lá o que você escolhe dizer se não for chegado a Bukowski. Prefiro vodka. Amor é uma merda. Amor enche o saco. Dá dor de estômago. Tira o sono. Xico Sá já disse: “A vida é breve, a D.R. é longa.”.

Se a gente ama demais, acaba não amando de um jeito que seja eficaz: esquece que amar também é dar espaço pro outro não sufocar, e esquece de se amar também. Se ama de menos… Calma, existe isso de amar de menos? Existe tanto pra se dosar. Aprender a fazer concessões. Dialogar. A cabeça de uma mulher sempre faz parte do quebra-cabeças masculino.

No final das contas, meus caros, mulher nenhuma é santa mesmo. Dentro da nossa cabeça sempre mora um diabinho que vos insiste em manipular com as mais descaradas chantagens emocionais e atuações teatrais. Na verdade, ela não te odeia. Ela te ama, mas o fez acreditar que está transando com o cara mais maravilhoso do planeta porque você não deu conta do recado. Mas deu sim. E ela não te tira mais da cabeça. Você só deu uma mancada, e ela quer que você reconheça sua parcela de culpa. E ela gosta de saber que ganha tão bem quanto você, ou que rala igual, agir como quem não precisa de ninguém, mas ela precisa. E aposte que justamente por isso, por ela ser dona de si, é que ela te deixa ser cúmplice nessa propriedade privada com tanta honestidade. Uma mulher sempre vai ser um pouco de ajuda ou bagunça no seu caos.

P.S.: Me desculpem por mais um texto hétero normativo demais.

 

 

Namorado de Aluguel

Recentemente me chamou a atenção nas atualizações de uma colega em uma rede social um compartilhamento de um tal de “namorado de aluguel”. Um pouco desacreditada, sem saber muito o que esperar do assunto, abri o link para ver do que se tratava e lá estava: era um rapaz que vendia seu tempo livre por R$100,00/hora e se propunha a sair com mulheres para “emprestar” sua companhia. Dizia no anúncio de seu site que aceitava convites para jantares – desde que a anfitriã pagasse -, tardes assistindo comédias românticas de pijama na sala, que seria capaz de conversar sobre todo e qualquer assunto, de colocar a moça para dormir, e, cereja do bolo, topava inclusive sair nas fotos do álbum de casamento daquela amiga que convida a mulher constrangedoramente para seu casamento.

Fiquei desorientada. Primeiro porque não tratava-se da venda de sexo, prazer, algo a que já nos habituamos, e sim de um “namorado de aluguel” vendendo seu  tempo e sua atenção. Depois porque parece que finalmente estamos nos tornando vítimas das nossas próprias criações, conectados até enquanto dormimos mas criando relações humanas cada vez menos íntimas e sólidas, tanto que estamos começando a ser seduzidos pela ideia da compra e venda de carinho e atenção, algo que sempre tivemos gratuitamente e de bom grado. Após uma breve pesquisa, descobri ainda que hoje pode-se contratar namorados de mentira via Mercado Livre e especializados em causar ciúmes e despertar a inveja nas redes sociais através de sites que fazem pacotes de acordo com o número de comentários amorosos que se deseja nas redes e que vêm fazendo o maior sucesso.

Se por um lado pagar por uma boa companhia garante uma troca de experiências honesta difícil de se encontrar por aí, por outro  parece triste depois do combinado simplesmente assinar um cheque e voltar para casa com a solidão de companhia. E eu diria ainda que a solidão não é um problema, que ela é necessária e importante, que todo mundo deve aprender com ela doses de amor próprio e pilulas de auto-conhecimento e que invejável mesmo é ser bem resolvido. Dane-se se todas as amigas estão pensando em se casar no próximo ano, se todo aquele pessoal do colégio hoje está começando a ter filhos. Enquanto se fica para titia a gente planeja uma viagem, improvisa.

No mais, toda mulher com R$100,00 por hora disponíveis para gastar provavelmente prefere investir em roupas, pares de sapatos, perfumes e bolsas. Estes ainda duram mais do que uma boa companhia – paga.

Bates Motel

Acordou naquela manhã com o céu ainda nublado invadindo o quarto. Tudo era impessoal, mas, ao mesmo tempo, parecia tão familiar que ela sentia que era parte de tudo aquilo.

Quando abriu os olhos o viu ainda dormindo e reparou que as mãos dele a prendiam, de forma que se mexendo o acordaria também. Ficou o observando. Aquele homem estranho e sua barba, e seus traços que faziam uma bela combinação entre si, mas que ela não sabia se eram bonitos em si. Ela acariciou aquele rosto, passou a mão naqueles lábios, ajeitou aquele cabelo.

“Se existem duas coisas que eu não gosto posso apostar que são galãs e gente dentro da caixinha!”, pensou.

Ele não era galã e muito menos dentro da caixinha. Era humano e imperfeito, não aquele estereótipo de gente feliz e descomplicada. Era cheio das idiossincrasias que ela gostava de achar graça observando a si mesma. Ela também gostava de observar suas roupas e a forma como mesmo engomadinho ele se destacava da multidão de engomadinhos. E exercia uma espécie de fascínio sobre aquele cara estranho, de feição séria, que convencia a todos menos a ela. Adorava ele almofadinha e ele perdendo a cabeça e abrindo o coração.

Se aninhou com ele na cama e mesmo seus movimentos mais singelos o acordaram. Se abraçaram e ela gostava daquele abraço como gostava de nenhum outro lugar no mundo. Cada toque dele tocava também a alma. Não era sexo, era ópio. Lícito, mas ainda assim, ópio.

Voltaram a dormir os dois. Ela mais sã e certa do que nunca e ele… Bom, ele era ele.

 

Uma crônica sobre amores imperfeitos e reais

Às vezes parece mais simples ficar sozinho. São tantas qualificações requisitadas, tantos empecilhos postos para evitar possíveis pretendentes, que temos a impressão de que fica cada dia mais difícil de encontrar quem nos agrade e iniciar um relacionamento. O moço, ou a moça, dos nossos sonhos precisa ter um tipo de beleza que nos agrade, ser inteligente, ter um gosto parecido com o nosso, ter bom humor, mas também não pode ter humor demais. Precisa gostar de viajar, de ler livros interessantes, não ser ciumento, mas precisa ter um pouco de romantismo. Diante de uma lista tão grande de pré-requisitos, acabamos por vezes fantasiando um príncipe encantado que jamais existirá. A metade da laranja, a tampa da panela, a alma gêmea, sao todas criações do imaginário coletivo.

Por mais idealizações que façamos, vamos ter que nos conformar: nossas relações são reflexos de nós mesmos e, sendo assim, nossos amores sempre serão imperfeitos e reais.

Inevitavelmente vamos nos apaixonar por alguém que tenha manias irritantes e defeitos que aprenderemos a aceitar. E provavelmente nos apaixonaremos muitas vezes por pessoas que nunca imaginaríamos que fosse possível. E, óbvio, quebraremos a cara por diversas vezes também. Mas por quê?

De Ocidente a Oriente, no Brasil ou na Islândia, não importa a cultura ou a religião, as pessoas vivem uma incessante busca pelo amor. Alguns psicanalistas afirmam que a procura por um parceiro se da por querermos sanar o vazio existencial que adquirimos diante da separação de nossas mães no nascimento, outros afirmam que buscamos relacionamentos porque é através da convivência com outrem que descobrimos facetas de nós mesmos, que temos a chance de nos encontrar e nos redescobrir.

Além de tudo isso, temos o fator influência cultural que nos faz querer casar, ter filhos, família, casa, e alguma sensação de segurança, ainda que falsa, afinal tudo pode mudar a qualquer momento.

Seja lá qual for a vertente de pensamento correta, e ainda que a nossa busca atordoada por um amor para chamar de nosso seja fruto da soma de todas essas hipóteses e mais algumas, fato é que todos nós estamos buscando o que fazer diante da vida. E se precisamos ir até o fim, sem nem saber que fim será esse, que ao menos tenhamos alguém para dividir os sonhos, os domingos chuvosos e aproveitar a sensação de aconchego que é poder ser aquilo que se é sem precisar provar nada a quem quer que seja.

Sobre desconstruir e se lembrar direito

Defini que esse seria o Novembro do desapego. Mês de Finados, por que não também o mês de enterrar tudo aquilo que não mais acrescenta? Finalmente arrumei os armários, me desfiz de uma porção de roupas que apenas ocupavam espaço, reorganizei prateleiras, excluí pastas e arquivos do computador, joguei fora diários com confissões antigas, cartas de ex-namorados, minha coleção de esmaltes vencidos e na hora de me livrar de você, percebi que ainda te queria.

Queria com todas suas incongruências, com seus defeitos, com suas manias, seu olhar, sua risada estranha, seu cheiro, seu toque, sua pele. E me arrependi absurdamente quando limpei a lixeira do meu notebook com as nossas fotos. Passei horas me perguntando se você ainda as mantém guardadas em algum lugar e se olha para elas sorrindo. Ouvi todas as músicas animadas que aguentei, mas repousei nas tristes. Cantei declarações de amor que nunca fiz, pensando que eu podia dar um jeito de aparecer na sua porta enrolada numa toalha e te amarrar na cama, de um jeito selvagem porém ainda com algum humor, pra nos transformar em paixão, em loucura, suor e suspiros.

E nós fomos isso, não fomos? Ainda que tenhamos sido apenas uma pequena epifania ou uma grande inconsequência? Porque você não me olha nos olhos e diz que signifiquei pra você? Ou me olha nos olhos pra simplesmente dizer que eu sou uma maluca, que idealizo demais, que levo tudo muito a sério, que você não suporta minhas esquisitices, que odeia uma porção de coisas em mim e que te fiz mais mal do que qualquer bem?

Fiquei pensando no seu silêncio incômodo, na chance que você me deu de criar mil hipóteses a ponto de eu nem saber mais o que é mentira ou verdade entre nós. Repeti os conselhos clichês que sempre ouvi dos amigos pra colocar de uma vez por todas na cabeça que você nunca se importou de fato. Que me faltava reviver nossos momentos com outros olhos, enxergar os fatos como foram e não como eu gostaria que tivessem sido. Que tudo nunca passou de um teatro ensaiado, de uma diversão sádica pra satisfazer a sua síndrome de Napoleão, sua necessidade por massagem no ego.

E esse texto é sobre não gostar de quem se gosta. É sobre achar que nunca vou me acostumar a nunca poder confiar. É sobre traições que vão além da carne. É sobre sentir-me tola por ainda acreditar no poder da sinceridade, das coisas que fazemos por paixão e verdade, por ainda falar em honra e caráter. É sobre finais e recomeços, sobre nunca aceitar menos do que se merece. “Abrir os olhos era o que bastava. O coração mente e a cabeça usa truques conosco, mas os olhos veem a verdade.”.

Um brinde aos sincericídas

Luiz Fernando Guimarães interpretou para a televisão o “Super Sincero”.  Na série, o personagem faz rir dizendo o que todos nós pensamos, porém não temos coragem de dizer, sendo, assim, taxado de grosso. “Se você mente, então é chamado de mentiroso. Agora se você é sincero e fala a verdade, dizem que você é grosso”, afirma. O personagem é aquilo que eu costumo chamar de “sincericída”.

Há tempos penso no limite para a sinceridade, sempre fico com o meio termo. Obviamente existem as mentirinhas do bem, aquelas que usamos para não causar climas inconvenientes, e que não fazem nenhum grande mal a ninguém. Mentir que está tudo bem, quando você não quer falar por que motivo tudo anda mal. Dar um sorriso ao chefe para não atirá-lo escadaria abaixo, e manter o emprego do qual você necessita. Se calar no calor de uma briga e não falar tudo o que vem à cabeça para evitar o arrependimento depois. Viver sem essas pequenas fugas é inevitável, mas o tema de hoje nesse blog é o papo furado.

Imaginem o mundo se as pessoas dessem menos voltas para chegarem aonde querem. Talvez você tomasse um susto, claro, com alguém te dando uma má notícia sem se cercar de alguns eufemismos, mas talvez você agradecesse por aquele aprendiz de cafajeste não te iludir pra te levar para a cama. Talvez o tal do cara também fosse chamado de pervertido por algumas, mas aposto que economizando o tempo de ludibriar moças para conseguir algo mais, o resultado seria mais sexo em menos tempo. E a melhor parte? Você ter a chance de evitar se apaixonar pela ideia de um sujeito maravilhoso que vai deixar de existir após a segunda manhã de sexo, e ele ainda reduz as chances de ser chamado de canalha por alguma desavisada.

Um pouco mais de sinceridade talvez te trouxesse menos amigos, mas com toda certeza te livraria daquele colega chato que adora desperdiçar seu tempo contando vantagens e falando de assuntos que pouco te interessam. O fato é que ninguém merece papo furado. Papo furado do namorado, do amante, do ficante, do amigo, do político, do chefe, do advogado, do réu, da consciência.

A sinceridade não é apenas uma relação entre nós e os outros. É, primordialmente, uma relação entre nós e nós mesmos. Sinceridade é agirmos com a nossa alma, ainda que isso nos leve a agir de outro modo que não aquele que esperam de nós. Ser sincero consigo é eliminar pesos, é se afastar de pessoas e atitudes que não nos levam além, é deixar de acreditar nas mentiras que contamos a nós mesmos.

Um brinde aos sincericídas! A praticidade de um sincero pode te assustar, mas pelo menos te livra do blá blá blá.

Sobre acreditar em Deus e acordar sem olheiras

Se eu acreditasse em Deus, todas as noites antes de dormir eu pediria: “Senhor, me livre de toda cagação de regra! Amém!” e então adormeceria o sono dos justos. Mas, como eu não acredito, antes de dormir tento pensar em pelo menos meia dúzia de coisas impossíveis se tornando realidade.

Imaginem, senhores, que agradável seria o mundo se as pessoas utilizassem o bom senso. Que incrível seria se desejassem “bom dia”, “boa noite”, “obrigado”, se dissessem “por gentileza”, “com licença” e pedissem desculpas. Imaginem que paz teriam nossos narizes se tomassem banho antes de dividir os espaços públicos, não exagerassem nos perfumes, se cada um cuidasse do seu próprio hálito. Imaginem como viveríamos menos estressados se todos tratassem bem o telemarketing, se o carro da frente desse seta, se os fones de ouvido fossem regra e não exceção nos ônibus, se não invadissem o espaço e a privacidade alheios, se não necessitássemos de tanta urgência.

Imaginem quantas conversas agradáveis e edificantes teríamos se todos assistem menos televisão, lessem menos Veja e comprassem mais livros. Imaginem todos preocupados com suas vidas e, por isso, julgando menos, se respeitando mais, não se matando por tudo ou nada.

Imaginem que bacana poder sair na rua à qualquer hora do dia ou da noite sem temer um assalto. Imaginem mulheres podendo usar roupas curtas no verão sem receber cantadas baixas, buzinadas de carros, andando sozinhas à noite sem temer que qualquer olhar de um estranho acabe em um estupro.

Imaginem podermos fazer nossas escolhas sem ter que ouvir a opinião do Papa ou do Silas Malafaia. Imaginem a comida gostosa na festa de casamento daquele casal gay que há anos planeja juntar as escovas de dentes e assinar os papeis. Os transexuais sendo tratados como gente, sendo chamados por seu nome social. Imaginem gordos e magros, altos e baixos, bonitos e feios sendo tratados com o mesmo valor, dignidade e respeito. Imaginem os negros e os pobres não sendo criminalizados e mortos por suas origens. A periferia descansando ao menos uma noite em paz.

Imaginem os sistemas operacionais funcionando. As filas andando. O trânsito fluindo. A nossa paciência sendo economizada.

Pois é, senhores. Eu dormiria mais rápido se acreditasse em Deus.

Destinatário e remetente

Um dos meus maiores desejos sempre foi ter o poder de transformar em sentimentos bons todas as mágoas e dores dentro de mim. Eu sempre quis desenvol ver meu desapego, não desperdiçar minhas energias cultivando raiva e desamores. Eu sempre quis confiar no destino, confiar no tempo, nas linhas tortas por onde caminho. Secretamente sempre acreditei que pessoas entram e saem de nossas vidas por algum motivo. Mística.

Eu sempre quis acreditar que o que tiver que ser, será. Que talvez não seja agora e nem nunca mais. Mas que talvez seja amanhã ou depois, numa esquina, num esbarrão, seus papéis caindo, eu me desculpando, nossos olhares se cruzando, a conversa surgindo e o tempo se arrastando até que um de nós tenha que partir e a gente tenha vontade de reviver o que deixamos para trás. Utópica. Romântica. Sonhadora.

Pessoas passam por nós e nos deixam marcas, fazem trocas, deixam manias, lições, reflexões, saudades, cheiros, memórias. Depois se vão, mudam a escala de importância que ocupam em nossos dias, saem do foco de nossas prioridades e nos deixam alguma sensação de perda. O tempo encarrega-se de gerar o balanço do que foi bom ou ruim, de reorganizar os espaços, de preencher os silêncios, de resgatar os sentidos.

É o amor buscando se livrar do ódio para virar amizade ou transformar-se em indiferença.  É a amizade tentando se livrar do amor pra voltar a ser somente amizade. É o rancor sendo obrigado pelo tempo a se dissolver nas alegrias. É a amizade tirando o espaço da mágoa para crescer mais forte. É o tempo separando o joio do trigo, nos mostrando os reais anseios, subtraindo as expectativas e colocando no lugar as verdades sentidas. O vento apagando e reacendo o que for para ficar.

“Medo que dá medo do medo que dá…”

Renato Russo colocou em palavras uma realidade do meu cotidiano: “Todos os dias antes de dormir, paro e penso como foi o dia.”. É nesse momento que penso nas minhas tantas incertezas, em minhas certezas tão mutáveis e pego no sono tentando responder as retóricas em minha cabeça. São tantas contradições e paradoxos, tantos medos e tantos atos de coragem, tantas cobranças e tanto descompromisso, que me faltam estruturas para organizar tudo em pensamentos coerentes. A coerência me foge o tempo inteiro.

Eu tentei ser coerente com as minhas escolhas, ser coerente nos meus amores, com a minha escrita, mas descobri que meu maior compromisso é com a vida. É ela que eu quero valorizar, é sobre ela que não quero ter a sensação de que deixei para trás. Eu posso carregar o peso de saber que fui incoerente e contraditória, mas não o peso de que fiz da vida algo que não gostaria. Eu aguentaria a culpa por magoar qualquer pessoa, menos o fracasso declarado por mim mesma me dominando a cabeça. Eu aguentaria me contradizer dia após dia em todas as crônicas e pensamentos que publiquei, mas não o peso de permanecer presa a uma ideia que não sou eu.

Vivo com essa necessidade constante de saber cada dia mais quem eu sou e o sentido de estar presa nesse universo, com a jocosidade de ser alguém entre outras bilhões de pessoas. Vivo achando que devo fazer algo de muito útil, de muito extraordinário, de muito inovador. Vivo pensando que talvez eu precise de respostas para as perguntas que ninguém faz, precise enxergar por ângulos que ninguém olha.

Afinal, “será que não temos tempo a perder” ou “temos todo o tempo do mundo”?, qual é o limite que separa a nossa coragem da covardia?.

E sei é que preciso aproveitar melhor o meu tempo, é que minha vida precisa parar de existir apenas depois que saio do trabalho e cumpro minhas obrigações. Minha vida deve começar no instante em que acordo e não ser vã no momento em que desligo. E sei que a coragem de viver minhas escolhas e colocar em prática as imagens que circulam em minha cabeça, não significam a ausência do medo. A ausência de medo é burrice. Negar o medo é negar a existência humana. Coragem talvez signifique que existem vontades, sentimentos, lugares a se conhecer, planos para concretizar, que são mais grandiosos que nossa gana por controle. Coragem é desapegar, ainda que doa. Coragem é se entregar, mesmo que sofra.  Coragem é saber que algo é maior que o nosso medo.

* Título faz parte de Medo, música de Lenine e Julieta Venegas.

Sobre adequar-se…

Ser mulher não é tarefa fácil. Ser mulher e não fazer parte do padrão branca, magra, alta, bonita e gostosa, é mais difícil ainda. Fica impossível não sentir inveja dos homens por seu universo de preocupações e variações hormonais ser muito menos complexo do que o feminino. Fica ainda mais difícil de não sentir inveja dos homens por vê-los crescendo livremente aprendendo a se impor como indivíduos enquanto nós, mulheres, crescemos aprendendo a nos castrar, nos adequar, nos comportar. Enquanto eles se sujam, aprendemos como devemos nos sentar para não mostrar a calcinha. Enquanto eles comentam sobre a bunda das garotas ou sobre seus recordes de pegação, estamos preocupadas em não termos fama de galinha ou determinadas a nos adequar ao gosto deles. “Não pode ser muito alta e nem muito baixa. Nem gorda e nem magra demais. Tem que ter peito e ter bunda. Cabelo com cachos, só se não for ruim. Se beijou vários meninos da escola ou não se encaixa nas alternativas anteriores, não serve pra namorar, só serve pra ficar.”. E nessa ânsia pueril de sermos aceitas é que entramos em dietas malucas, choramos na frente do espelho por termos celulite, estrias, peito de menos, gordura demais, a bunda que não está empinada, o rosto que está com espinhas, o cabelo que não fica no lugar. Nunca parecemos boas o suficiente, adequadas o suficiente, ideais o bastante para sermos desejadas, amadas e queridas quanto as garotas photoshopadas nas capas de revistas e nos papéis principais.

Faz muito tempo que tento escrever esse texto, mas nunca consigo por motivos de ~~ não quero soar como a feminista mal amada e cheia das neuras ~~. Mas a questão é que, mesmo com toda a consciência que adquiri com horas de leituras e discussões sobre as opressões que sofrem as mulheres perseguindo um padrão de beleza inalcançável, não consigo me livrar dessa pulga atrás da minha orelha querendo me fazer acreditar que devo me adequar, que não sou boa o suficiente, que nunca conseguirei ser feliz de verdade enquanto eu não for linda e incrível como uma ~~mulher ideal~~deve ser. Nunca consigo me privar de pensar que eu me sentiria muito mais feliz se tivesse o quadril um pouco mais largo e gastasse 15 mil pilas colocando um implante discreto de silicone nos peitos, mesmo que fosse obrigada que enfrentar meu medo absurdo de hospitais, agulhas, bisturis e o risco real que uma cirurgia desse nível possui. Ainda que eu odeie esses padrões absurdos, tente arrancar essas ideias fixas da minha cabeça e acredite veementemente que tudo isso não passa de um desperdício de tempo, dinheiro e sanidade, não consigo me livrar. É mais forte do que eu.

E é triste que a nossa felicidade seja rifada por essas preocupações. É triste a gente passar metade de uma vida desaprendendo tudo o que nos ensinaram desde as barrigas de nossas mães e soframos nos sentindo ridículas, ainda que sejamos incríveis de fato, por não fazermos o tipo desse ou daquele rapaz. Requer muito trabalho não sucumbir às pressões que nos cercam de todos os lados e aprendermos que, ao invés de nos adequar, devemos valorizar quem nos ama e admira por quem somos, independente de como somos. Me parece, no momento, a luta de uma vida inteira. E a gente passa uma vida inteira aprendendo a se gostar enquanto poderia estar aprendendo qualquer outra coisa, não fosse a necessidade capitalista de senhores que buscam lucrar abalando nossa auto estima.

 

A criança que você foi se orgulharia do adulto que você é hoje?

Eu nunca entendia quando me diziam para não ter a pressa de crescer pois um dia eu sentiria falta dos meus tempos de criança. E pois é, agora eu entendo. A vida perde totalmente a graça depois que a gente entende que o Papai Noel é aquele tio gordo e fanfarrão que coloca uma fantasia na noite de Natal para enganar você e seus primos. Quando a gente descobre isso e deixa de esperar o Papai Noel com os olhos semicerrados imaginando flagrar ele trocando a meia na janela por algum presente, a vida vai perdendo um pouco do sabor. E ano após anos nos tornamos diferentes, vamos trocando as ilusões infantis por aquilo que chamam de maturidade.

Acho que tenho um complexo de Peter Pan: morro de tédio com esse papo de ser adulto e ter que ser coerente o tempo inteiro, de obedecer as regras simplesmente por obedecer. E eu provavelmente me mataria se me visse condenada a uma vida de obrigações, abrindo mão dos meus pequenos prazeres diários, destinada a cumprir e só. Eu sou hedonista. E meu grande defeito é só fazer aquilo que eu gosto, ou, no máximo, me obrigar a fazer tarefas que não me agradam tanto, mas também não agridem muito o meu ego meio inflado. E eu que tenho esse problema de ser meio cética em Deus e nessa parafernália castradora de céu e inferno, acabo achando que o grande sentido dessa vida é aproveitarmos nosso tempo para evoluir e descobrir quem somos nós e o que estamos fazendo perdidos aqui nessa pantomima chamada humanidade.

Viver requer coragem. Requer acordar todos os dias tentando enxergar além dos nossos problemas e não nos deixarmos fechar no nosso mundinho limitado a possibilidades e soluções igualmente ruins. Às vezes imagino a vida como uma grande aventura em que a gente enfia umas roupas na mala e sai dando a cara a tapa pra ver se um dia consegue ser feliz de fato. E viver dói. Abrir mão dói. Mas a sabedoria de nos desapegarmos, de nos livrarmos daquilo que já não nos faz bem, é o que no fim das contas realmente importa.

E eu não quero ninguém me dizendo quem ou quais eu devo valorizar. A quem eu devo dirigir meu ‘bom dia’ ou meu ‘boa noite’. Nossa vida passa rápido demais pra gente ficar negando fogo, ficar negando afeto, ficar negando se doar por inteiro, endurecendo pra não ferir o orgulho. E é curta demais também pra ficar tentando ferir os outros, pra ficar desperdiçando com brigas e rancores. Tudo passa rápido demais e a gente fica se esquecendo o tempo inteiro de enxergar humanidade no outro!

– Eu não quero ser Gandhi, mas eu quero ser leve, por favor!

Também quero acreditar que o mundo é sim de boas intenções! Quero não endurecer com as pauladas. Quero ser PhD em desilusões amorosas, sem nunca desaprender a amar alguém. E se nada disso for possível, quero mais uma tarde com meus velhos amigos numa mesa de bar, um trago de um bom cigarro e cerveja bem quente para aquecer almas frias.

Afim de te acompanhar…

Uma sensação de Dejá vù a acordava. A mesma história começando a se repetir e ela tendo a consciência disso. Podia manipular os fatos, as pessoas, reverter o jogo para tornar a disputa favorável a si mesma, como não o fez à princípio? O que era real e o que não passava de imaginação? Ela estava confusa. O que era um presente vindo de lugar algum podia também ser uma arma de destruição em massa. Ela optara uma vez por ser altruísta, mesmo não sabendo a total dimensão dessa palavra, e em troca percebeu que as pessoas não se importavam com ela da mesma maneira a qual ela fazia questão de se importar. Era sempre verdadeira, mas agora podia escolher usar de sua influência e pensar apenas em si mesma.

Como maneira de supor o que poderia acontecer num futuro nem distante e nem próximo também, ela imaginava e criava hipóteses pra imaginar o que poderia ter acontecido se na primeira vez ela tivesse dado vida à víbora que residia em si, amordaçada por seus medos, inseguranças e vontade de agir de boa fé. Ela sabia que se quisesse podia ter o que sonhava. Sabia o que queria, enquanto a outra, não! Mas também tinha medo de entrar num jogo por pura gana de vencer e não por ter sentimentos de verdade, e aí jamais se perdoaria por ter agido por puro egoísmo, e não movida à paixão. Por muitas vezes ela fingia que não enxergava, mas longe de sua consciência ela admitia que eles tinham coisas em comum, e sonhos que casariam muito bem. Eles poderiam crescer juntos, viver não apenas de atração física, mas de horas infindáveis de assuntos, discussões edificantes e opiniões conjuntas. Ela questionava se ele já havia pensado essas coisas em segredo também e o motivo deles nunca terem usado o rótulo de melhores amigos, embora soubessem que compartilhavam intimidades demais.

O que separava sonhos da realidade? Por que ela tinha a impressão de que era inconsequente, enquanto ele era certinho demais? Por que vivia chegando à conclusão de que apesar de todas as diferenças, eles tinham objetivos muito comuns? Eles viviam, de formas diferentes, buscando as mesmas coisas em pessoas distintas, mas por que não um no outro?

Essas divagações porém, não cabiam. As questões que a motivavam a horas de reflexões eram existencialistas: ela sabia que qualquer decisão que tomasse, tendo consequências positivas ou negativas, seriam de sua responsabilidade. E tinha ciência também que não poderia sonhar eternamente, ou decidia-se a lutar por ele ou não. Ou dava a cara a tapa ou não. Ou vencia seus temores e descobria se ele se sentia da mesma forma, ou teria sempre um “não”! Seria um Dejá vù com gosto de volta por cima, ou amargurado com o sabor do altruísmo?

22.2.2012

*O título é um trecho de ‘Último Romance’, do Los Hermanos.

Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão…

Detesto falar de amor, ou melhor: detesto falar de amor usando clichês para resumir tudo aquilo que já se pensa sobre o assunto.

Os filmes românticos acabam sempre com os mesmos finais e, na vida real, se você não tomar cuidado, inevitavelmente vai começar a dizer pelos quatro cantos que o amor é uma merda! No final das contas, amar pode até ser uma porcaria, mas a grande merda mesmo é o amor romântico!

O amor romântico é fadado à frustração, é uma causa falida! Vivemos no século da individualidade, da solidão, mas continuamos a acreditar que somos incompletos e que precisamos encontrar nossa outra fração. Idolatramos o amor romântico e todo o resto se torna banal. Creditamos ao outro nosso tesão, nosso orgasmo, nossa insônia e até nossa alegria. Mas está tudo na nossa cabeça. Quem adivinharia? Não seria muito mais proveitoso se, ao invés de depositar nossos anseios no outro e darmos a ele o peso da nossa felicidade e bem estar, nos responsabilizássemos por nós mesmos? Porque perdemos tanto tempo com a insegurança, com o ciúme, limitando o outro a viver só para nós, como um pássaro preso na gaiola?

O amor moderno precisa se adaptar à individualidade e se voltar para o crescimento pessoal dos indivíduos que formam um casal. Precisa abandonar a ideia de posse e apostar no companheirismo, na cumplicidade e no respeito verdadeiro pelo outro se quiser fluir. Precisa abandonar a ideia de que o amor é uma espécie de mágica que automaticamente acaba com os problemas, os vazios, as melancolias. O amor romântico é uma frustração porque inexiste sem a insatisfação, o desrespeito e porque fecha as portas às novidades, à vida, tornando-se fadado ao tédio e ao comodismo.

Amores modernos e, principalmente, sadios não combinam com dependência emocional. Amores são sobre diferenciar  precisar e querer. Quero estar com alguém por vontade, não por necessidade e me sinto no direito de exigir essa reciprocidade de sentimentos. Amar é também sobre deixar o outro sentir sua falta, é sobre deixar o outro ser. A maior prova de amor é duas pessoas que poderiam estar fazendo qualquer outra coisa de suas vidas, que conseguem viver plenamente bem sozinhas, estarem juntas por vontade… Todo o resto é uma desonestidade!

Mas dói, né? Seu ego ao perceber que você não tem tanto controle assim sobre a vida de alguém?

Outro dia mesmo falei sobre me livrar dos pesos e eu não quero ser a responsável pelas frustrações de ninguém. Talvez seja por isso que tenho aprendido com a solidão a gostar mais de mim, buscado ser mais feliz sozinha e tenho conseguido me sentir inteira, completa. E eu vou te amar porque eu quero, porque eu não preciso!…

Sobre encontros…

Que sentido faz a vida? Essa jornada confusa e tão paradoxal? Nós nascemos sozinhos e morremos sós, sonhando a vida inteira em preencher os espaços com alguma dose de amor, aconchego e da vida que as horas, por vezes, nos arrancam. Vida essa que me cobra cautela e calma, quando o que eu mais quero é o imediatismo. Vida essa que se faz em dias ensolarados, em mesas de bar cheias de amigos e conversas de horas que terminam com a sensação de que deveriam durar toda uma eternidade… Banhos de chuva, amores, dores, alguns pileques pra depois rir à toa.

Vida essa cheia de pessoas com um único desejo comum: o de preencher os vazios da existência.

A vida é um parto. Parto-me.

Vida essa que me desespera, que me torna cada dia um pouco mais ou menos otimista…

Tenho tentado me livrar dos pesos, das pessoas que nada me acrescentam, dos amores vagos, dos sabores amargos e me cercar apenas de tudo o que me faz bem. Tenho tentado não fazer do ato de sair da cama um grande drama. Tenho preferido ler bons livros e dar boas risadas, a gastar minha energia me tornando mais amarga e deprimida. Meu mantra de meditação tem sido o “foda-se”. Repito o tempo inteiro.

Fodam-se os caretas e os caga-regras. Fodam-se os patrulheiros da vida alheia. Eu quero os encontros de alma, os corajosos, os que não têm medo de dar grandes passos e cair grandes quedas. Quero aqueles feito bonecas russas, que sempre guardam mais dentro de si mesmos do que transparecem aos olhares desatentos. Quero gente me que olhe nos olhos, me agarre na nuca e não tenha medo de ser invadida!

Vida essa reticente. Que não sabe como começa e só acaba quando termina.Um jocoso trocadilho…

Solidão acompanhada

Era sempre a mesma sensação, o mesmo incômodo doído no peito, aquele vazio… Era culpa da existência aquele buraco ali aberto, precisando ser preenchido, a fazendo se sentir incompleta. “Segunda opção”, “deposito de porra”, “capacho” eram algumas formas como ela às vezes referia-se à si mesma com desprezo. Como poderia ter uma auto- estima tão pequena e uma certeza tão grande de que merecia algo bom de verdade? Como podia odiar tanto suas falhas e, ao mesmo tempo, se achar muito mais incrível e até se passar por prepotente por se achar tão especial? Contradições.

Ela se distraia com os caras com quem compartilhava o tesão, aquela infíma parte do seu desejo, a ponta do iceberg. Vivia numa espécie de satisfação sexual que não sabia se lhe fazia mais bem ou mal. Gozava com alguma facilidade duas ou três vezes, e depois sentia que uma solidão a acompanhava a preenchia. Sexo é subestimado, pensava. Talvez fosse mais proveitosa uma siririca bem tocada a uma foda que lhe cansava os músculos e depois doía a alma.
Fato é que sentia que havia muito mais para dar de si do que apenas a boceta e achava tudo aquilo um desperdício de tempo, energia, sanidade. Pensava no quanto aqueles seres desnudos ao seu lado perdiam e no quanto ela mesma, em sua liberdade sexual que a taxava de biscate, retraia um pulsar incessante no âmago. Sentia sede de intensidade, de entrega, coisa que socar algumas vezes aqui e outra ali não sanava.
Levantou-se daquele cômodo impessoal de motel, colocou a calcinha jogada na ponta da cama e vestiu as roupas enquanto saía de fininho. Deixou o rapaz dormindo. Na maioria das vezes aquelas fodas filosóficas lhe pediam uma caminhada e um cigarro com gosto de câncer e cool. Culpa cristã era o caralho. O buraco era mais para dentro e sangrava.

Notas musicais: Bárbara Eugênia ♪

Recentemente me flagrei ouvindo coisas que nunca havia imaginado. Eu, que era assumidamente do rock, dos clássicos, me peguei ouvindo também os clássicos do samba, os grandes nomes da MPB, as novidades incríveis do Rap.

Então esse ano na Virada Cultural de São Paulo, com uma programação completamente distinta das edições passadas em mãos, vi com um amigo um show incrível do Criolo, que ficou ecoando na minha cabeça por semanas e acabamos por ver a Bárbara Eugênia, meio que por falta de algo melhor pra fazer (eu sendo sincera) e eu simplesmente me apaixonei, assim, à primeira vista mesmo. A voz limpa mesmo entre os cigarros, o batom vermelho e o sorriso enigmático e sedutor no canto dos lábios da cantora bastaram para que ela ocupasse as primeiras posições entre as músicas mais ouvidas no meu player em poucos dias. Vi inclusive mais um show após o primeiro, coincidentemente, o lançamento de seu segundo disco, “É o que temos”, que traz uma versão impecável do clássico “Porque brigamos?”, canção dos tempos de minha avó.

Journal de BAD é o primeiro lançamento da artista, e meu favorito.

Carioca, mas Paulista, Bárbara Eugênia canta sobre desilusões amorosas e amores, com uma pegada retrô e empolgante. Edgar Scandurra gravou as guitarras de seu disco e também o produziu. O resultado foi um daqueles discos que a gente escuta também com a alma.

Sobre Pensar e Permanecer na Zona de Conforto

Ignorância é uma bênção, sempre afirmei. Ignorância é cômodo. Incomodo é pensar, porque leva a querer tomar atitudes e, novamente, agir não é cômodo.

Pensar me dá burburinhos na alma, me indigna. Quando leio um bom livro que coloca em cheque minhas verdades inabaladas, então, sai de perto. São dores de cabeça, músicas revoltadas no talo do meu ouvido e até uma vontade incontrolável de não segurar as lágrimas de revolta que me brotam volta e meia.

Ser pensante não é confortável, já me fez inclusive abrir mão daqueles amores fáceis. Vivo naquele dilema do “é bonitinho, mas…”. Mas é machista, mas é homofóbico, mas é reacionário, mas é alienado. Nunca dá certo. Ser pensante já me fez querer saltar pela janela do ônibus nas diversas vezes em que fui obrigada a ouvir conversas quase surreais e os absurdos que as pessoas trazem em suas mentes comuns. Ser pensante é perigoso.

Por mais prazeroso que seja aprender a olhar por outros parâmetros, ser pensandte e inquieto na cabeça é perder o direito àquela ignorância gostosa que nos permite assistir à televisão sem pensar em mais nada. Ah… aquela ignorância que não me permite ir dormir pensando nas notícias que li no jornal e das mazelas do país.

E o pior sobre ser pensante, é a sensação de impotência. A sensação de ser só mais um que não sabe se é esperto ou burro por querer nadar contra a maré mesmo sabendo que quando precisar pagar as contas e dar a cara a tapa sozinho, vai sentir aquela câimbra inconveniente e se deixar levar pela correnteza.

A ignorância é a bênção pela qual rezo todos os dias antes de dormir.

A mulher e o medo

Em 1949, ano em que foi lançado o livro O Segundo Sexo, uma célebre frase transformaria sua autora, Simone de Beauvoir, em um ícone do feminismo: “Não se nasce mulher, torna-se”. Com essa frase Simone, filósofa existencialista, quebrava o estigma de que as mulheres tinham um destino biológico já formulado, tirando-as dos papéis socialmente estabelecidos para elas, que eram obrigatoriamente o casamento e a criação dos filhos, ou então, o magistério. Em sua obra, a autora se propôs a traduzir o que significava ser mulher, dizendo que “A mulher determina-se e diferencia-se em relação ao homem e não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial. O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro”.

Em termos práticos, o que Simone de Beauvoir queria dizer é que desde os primeiros passos a mulher recebe uma série de restrições e uma educação que a coloca em desigualdade para com os homens. Enquanto as mulheres crescem procurando se adequar à vaidade deles para que possam encontrar bons maridos e, assim, adquirir uma posição em seu universo extensamente mais interessante, os homens estão livres para alçar voos maiores, pois já são os donos desse espaço que elas tanto almejam. Enquanto os homens desperdiçam seu tempo livre como bem entendem, as mulheres estão ao lado das mães aprendendo as tarefas do lar, como pregar botões e seduzir seu homem pelo estômago.

Embora muitas mudanças culturais e comportamentais tenham ocorrido nas últimas seis décadas, a obra de Beauvoir ainda continua clara e atual, nos mostrando a história de opressão que a mulher sofreu e ainda sofre. E mesmo com tantos avanços, não são poucos os exemplos dessa herança paternalista e machista que carregamos. A mulher convive diariamente com medo e com a dualidade de escolher viver a sua vida e fazer suas próprias escolhas, assumindo todas as consequências cruéis que daí podem surgir, ou seguir todas as regras e ser recompensada por fazer aquilo tudo que se espera que uma mulher faça. Se assumir como ser humano dotado de imperfeições e desejos, muitas vezes, requer que a mulher dê sua cara para bater, que tenha coragem, que tenha discernimento para não sucumbir às diversas agressões que sofrem, que vão desde insultos não muito criativos à surras para que se ponham em seu devido lugar. Atire a primeira pedra a mulher que nunca foi chamada de “vadia”, “puta” ou adjetivo pior e aquela que nunca ouviu entre as amigas histórias de agressões que foram parar numa delegacia, num hospital ou numa cova. É só abrir o jornal.

Tudo isso me faz questionar porque tem sido tão difícil livrar as mulheres dessa carga cultural, porque ainda precisamos do feminismo e porque as lutas que vivenciamos parecem infinitas. Não posso culpar as mulheres pela opressão que elas sofrem, assim como seria inviável culpar os negros pelo seu passado de escravidão e os judeus por terem sido vítimas do holocausto. As mulheres, assim como outras minorias, tornaram-se, em grande parte, machistas porque acreditam nas enormes recompensas de se apropriarem do discurso do opressor, porque não têm parâmetros para conduzir sua própria liberdade.

A liberdade da mulher é uma eterna desconstruções de padrões e conceitos que foram firmados por uma vida inteira.A liberdade da mulher passa pelo questionamento do padrão de beleza que as condiciona, pelo fim da liberdade sexual somente quando convém aos interesses masculinos, pelo exercício da empatia e da sororidade com outras mulheres. E até a liberdade, há um longo e árduo caminho.

Recomendo: Veias Abertas da América Latina

Eduardo Galeano tem sido sinônimo de gênio para mim desde que comecei a ler Veias Abertas da América Latina. É um livro imprescindível, deveria ser obrigatório nas escolas e pra qualquer pessoa que deseja conhecer mais a fundo a história de seu país e continente e entender de quais maneiras a colonização invasão europeia influencia nossa cultura, nossa organização social e os problemas que nos impactam atualmente.

O livro é interessante, nos mostra uma perspectiva histórica que não aprendemos com os livros da escola. Temos uma visão muito mais clara e menos romântica ao ler as constatações do autor, que, ao contrário de autores didáticos, não maquia as opressões pelas quais passaram os nativos habitantes da América, os negros, as mulheres e as classes oprimidas pelo capitalismo em suas diversas fases. Por vezes, as palavras irônicas e duras do autor doem como um tapa na cara.

O autor nasceu em Montevidéu nos anos 40, se tornando um dos grandes jornalistas e escritores do Uruguai. Foi perseguido pela ditadura militar em seu país e foi obrigado a se exilar na Argentina e Espanha, tendo sido incluso na lista do esquadrão da morte e caçado por seus ideais socialistas e revolucionários. Escreveu em 1971 sua mais conhecida obra, Veias Abertas da América Latina e esta parece atemporal, nos fazendo entender melhor tempos de protestos, de mídias compradas e sujas, de governos que fazem desapropriações e matam moradores das favelas.

Para desvendar os mistérios da extração do ouro e das misérias.

Livro disponível em PDF.

A Primavera Brasileira tem mais festa do que fúria

Empatia significa apropriar-se do sofrimento do alheio, mas pode ser definida também como um exercício diário que a gente pratica sempre que se dispõe a sair do nosso mundo e mergulhar no universo do outro. Mas o problema com a empatia é que ela anda em falta e não é fácil cria-la diante daquilo que não é tão óbvio. Empatia é tomar para si a revolta de uma mãe que perde seu filho em um assalto, mas também é mais do que isso.

Em uma palestra muito acertada, o escritor Mia Couto já afirmava que é preciso quebrar as barreiras do medo e passar a conhecer aqueles que por décadas nos acostumamos a chamar de eles, mas o problema com a empatia é que chegamos a um grau tão alto de violência em que não conseguimos mais enxergar humanidade no outro, naquele que vive uma realidade diferente da nossa.

Vivemos em uma sociedade que todos os dias exclui, segrega e mata, estratificada de tal forma a satisfazer apenas o interesse de uma dúzia de senhores que concentram quase a totalidade dos bens produzidos pelo país e define quais devem ser as aspirações da classe média que os sustenta. Sociedade essa que criou um monstro chamado Desigualdade Social e com o qual até hoje não sabe lidar e nem faz questão de saber.

E por que estou dizendo isso? Porque é da Desigualdade Social que nasce o menor abandonado, o morador de rua, o sem-teto, o analfabeto funcional, o colarinho branco, a fome, a chacina. O monstro chamado Desigualdade Social contribui para o aumento da criminalidade, para o tráfico de drogas, contra os quais o cidadão de bem quer lutar, mas sem saber, alimenta. Porque o monstro sucateia escolas, hospitais e bens públicos, mas a classe média que pode optar pelo privado não sofre nem se comove com isso. Porque o mostro Desigualdade Social está diretamente ligado ao desenvolvimento das cidades e esse trânsito caótico, essas favelas que não se incendeiam sozinhas e esse transporte público que não funciona.

A lógica sempre me disse que quando uma pessoa possui muito é porque falta algo a alguém, e que isso se aplica a tudo. Se um grupo ostenta mais privilégios, é porque a outro falta direitos e riquezas. Se há concentração de bens e serviços em determinada região, é porque em outra há carência de infraestrutura. Se há especulação imobiliária e as casas se tornam cada vez mais caras enquanto há quem more em condomínios luxuosos, cercados de câmeras, grades e proteção, é um tanto óbvio que isso criará moradias irregulares, ocupações, favelas e pessoas vivendo em situação de extrema pobreza.

E o que me choca mais é estarmos tão inertes a ponto de estarmos protestando por inúmeras causas, algumas válidas e outras não, mas sem entender a fundo a gravidade dos problemas do nosso país. Será que estamos mais uma vez tentando curar os sintomas sem nos preocuparmos com a doença? Até quando vamos fingir que não vemos a opressão que sempre esteve presente na periferia insone  e que, de diversas formas, nos atinge também? Se me preocupo com essas questões é porque não vejo sentido em uma sociedade que faça bem apenas para mim e uma pequena parcela de sua população. Não me interessa privilégios, me interessa igualdade, para que nem eu nem ninguém precise se preocupar mais em resolver o que fazer com os delinquentes, com a falta de bons hospitais públicos, o não cumprimento das leis. Me preocupo porque é o mínimo que eu poderia fazer, porque fazer protesto seguindo cartilha de bons modos e obediência civil só incentiva os donos do poder a tapar o sol com a peneira para acalmar os bobos.

E diante dessas minhas constatações só posso concluir que esse gigante sonolento, criado a leite com pera e revista Veja não pode ir muito longe a não ser que deixe de defender os interesses da minoria e passe a caminhar rumo à destruição de monstros que ele próprio criou. A grande maioria das pessoas não entendeu o que são esses protestos. A maioria não descobriu como ser empático o bastante para não defender apenas seus próprios privilégios. E não me chamem para essas micaretas conservadoras de ideais elitistas e direitistas. Me chamem para uma revolução de verdade, me chamem contra a opressão do pobre e do desfavorecido, mas não pra essa patifaria com teor de carnaval. Não é revolução de verdade se não houver luta de classe, se não for subversivo o bastante para entrar nos livros de história e nos sonhos da juventude. ““Se Não Posso Dançar Não é a Minha Revolução” Emma Goldman

“Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força.” George Orwell, 1984.

Lugares comuns

Às vezes me pergunto se é sinal de coragem ou muita burrice insistir em ser quem eu sou e pensar da forma que penso. Aliás, penso demais, sinto demais, quando poderia ser igual a qualquer outro cidadão. Seria muito mais cômodo me interessar por pessoas comuns, ouvir músicas e assistir a filmes comuns, estar em lugares comuns e não ter que me preocupar em convencer as pessoas do meu ponto de vista. É uma tarefa um tanto árdua ser de fato quem a gente é e aprender a lidar com a necessidade que os outros têm de que a gente se justifique o tempo inteiro.

Mas desde que me entendo por gente, não sei não questionar, não sei não pensar ou dar minha opinião. Meus ídolos são quase todos anti-heróis, meus livros favoritos são sarcásticos e críticos, meus amigos são os desalinhados, poetas de quartos escuros, sonhadores tanto quanto eu. E é esse o universo que me nutre. O espaço entre o sonho e a discórdia é onde eu vivo.

Quando tenho insônia ou estou presa nesse trânsito insuportável de São Paulo tento imaginar como seria minha vida se eu fosse uma pessoa comum, mas me dá desespero. Não consigo imaginar minha vida presa nas zonas cinzas do planeta, chegando aos trinta anos e trabalhando num emprego que eu odeio, que me paga pouco e quer controlar minha vida, meus planos, meus horários. Não consigo conceber a ideia de ter uma família nos padrões arcaicos e passar todos o resto dos dias pensando nas crianças, assistindo Jornal Nacional e nos domingos o Faustão. Parece arrogância, mas é auto-estima: mereço mais!

Quando estou no mercado, no shopping ou nas redes sociais ruminando vejo uma porção de pessoas fúteis com as quais não me identifico. Elas cuidam cuidam da minha vida mais do que das suas, estão preocupadas com a novela, com o que os gays e as lésbicas fazem na cama, mas não com seus próprios valores. Estão preocupadas em arrotar títulos e etiquetas de marca, mas não em arrotar valores de espécia alguma.

Se essas pessoas se indignam com meu cabelo, minhas preferências políticas e meus protestos, continuarei a me indignar com seu conformismo e com todos os cidadãos de bem que fecham os olhos diante do caos e sentem medo diante do diferente. Cidadãos de classe média que se julgam a nata da sociedade, que defendem o interesse dos ricos e se esquecem que é por eles que são oprimidos. Gente que anda feito cordeiro.

Prefiro seguir me ferrando e me cansando de separar sempre o joio do trigo a me adequar a todos os anseios. Prefiro seguir compactuando com o pensamento de Krishnamurti e acreditando que não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente. “Se é coragem eu não sei”.

Mas nós, que sonhamos com a liberdade, a justiça e o respeito, não somos cidadãos de bem…

No início desse ano (re)assisti a uma peça de teatro que me marcou muito: Luís Antônio – Gabriela. Um espetáculo sobre respeito, inclusão e, acima de tudo, humanidade, palavra essa muitas vezes esquecida quando simplesmente aceitamos colocar pessoas e outros seres em condição inferior à nossa. A peça fala sobre um rapaz transsexual obrigado a entrar no mundo da prostituição para sobreviver em plena ditadura militar, mostrando os abusos que sofreu, a discriminação, o rompimento com a família e a vida que levava à margem da sociedade. Luís Antônio, ou Gabriela, como era conhecida, morreu em 2006 já muito debilitada pela aids e pelas complicações de seu estilo de vida; era uma figura grotesca: um homem com seios e coágulos de silicone industrial acumulados por suas pernas, o que causava grande dor e desconforto. Sucesso de público e crítica, a peça termina com um grande momento de lucidez e reflexão, com os atores cantando Your Song, do Elton John, após uma fala emocionante de Luís Antônio: “a vida é tão curta e eu vou ficar me doando pela metade?”. Luís Antônio só sabia retribuir amor e compaixão, não fazia distinção entre seres humanos, para ele, totalmente dignos de respeito, carinho e compreensão. “Para quê eu vou dar uma mão, se posso me doar de corpo inteiro?”, ele se perguntava. Assisti a peça duas vezes, sempre enxugando as lágrimas no final, com esperança de mais igualdade, respeito, compaixão entre as pessoas, que fosse muito além de religiões e interesses políticos, gritando dentro do peito…

As indiferenças diárias, o descaso, a omissão, os preconceitos e violências sofridas pelas minorias desse país me doem. Sinto que sangro toda vez que presencio o ato de tapar o sol com a peneira, tão comum nesse nosso país. Sofro toda vez que me lembro que na nossa sociedade, escrever essas coisas como escrevo, é quase um ato de subversão: nós, que sonhamos com direitos humanos, com progressos reais e para todos, com respeito e dignidade, somos os vilões da história. Ser cidadão de bem no Brasil é lutar para manter os privilégios daqueles que não os merecem!

Parece que estamos cada vez mais distantes de conquistar um país verdadeiramente independente, laico e humanista. Perdemos a nossa humanidade, inevitavelmente, toda vez que naturalizamos formas de violência, que discriminamos, que negamos ao outro direitos e liberdade para ser e existir, que não conseguimos o enxergar com a alma que enxergamos em nós mesmos. Perdemos nossa humanidade, nosso espírito democrático e nossa dignidade ao aceitarmos Marco Feliciano e Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos.

 

 

Estupro não é sexo, é violência!

Desde o início desse ano, o estupro é um dos assuntos mais falados na mídia devido aos fatos ocorridos na Índia. Acontece que no Brasil a situação de vulnerabilidade das mulheres também é preocupante. Em São Paulo, por exemplo, segundo dados, em 2011, o Estado registrou 10.399 casos de estupro, contra 12.886 em 2012 – um crescimento de 23,9% na incidência do crime. Isso significa que só no Estado de São Paulo, em média 35 mulheres sofrem violência sexual por dia!

O que mais me preocupa é que a mídia que divulga notícias de violência contra a mulher – não só sexual, mas também do que eles insistem em chamar de “crime passional” – trata esses casos como fatos isolados, quando, na realidade, eles estão ligados a uma cultura de estupro e desigualdade de gênero. A forma como os veículos de informação tratam dos crimes sexuais dão a falsa ideia de que os estupradores são maníacos, quando, na verdade, em sua grande maioria fazem parte do círculo social da vítima, sendo amigos, colegas, maridos ou parentes. Além disso, levam à convicção que o aumento desse tipo de violência é gerado pela falta de leis mais severas, quando, na verdade, se trata de uma deficiência cultural que precisa ser superada.

est12

A cultura de estupro quer que todos nós acreditemos que mulheres são seres naturalmente dados à pureza, que não gostam de sexo e que, por isso, precisam ser convencidas e forçadas a aceitar o ato sexual, enquanto homens, têm uma necessidade natural de fazer sexo e por isso, são seres irracionais incapazes de frear seus impulsos sexuais ao ver uma mulher com decote ou roupa curta. Essa cultura também decide quem é ou não digna de respeito: usava roupas curtas demais, tinha parceiros sexuais demais, estava andando sozinha à noite na rua, bebeu na balada?, então não presta, mereceu ser estuprada! Em ambos os casos, a culpa sempre é colocada na vítima.

O que a cultura do estupro não nos ensina é que estupro não se trata de sexo, mas de violência e demonstração de poder e que quando uma mulher diz “não”, ela realmente está querendo dizer “não”! Além disso, não nos deixa perceber que a roupa que uma mulher veste não pode definir seu caráter e muito menos dizer se ela é digna ou não de respeito. A cultura do estupro não nos ensina que mulheres são seres capazes, que possuem muitos atributos que não suas belezas, que não são feitas para enfeitar e nem para satisfazer desejos masculinos.

Quantos mil casos de estupros precisarão acontecer em 2013 para que a mídia e as pessoas comecem a entender que não se trata de mudar as leis e sim de parar de tapar o sol com a peneira e de lidar com os fatos como eles realmente são? Estupro é uma manifestação de violência e misoginia! Um estupro nunca é um caso isolado!

Então você quer dizer que machismo é ruim e feminismo é bom?

Desde Felipe Neto e PC Siqueira, os vlogs viraram uma mania no youtube. Até eu gostaria de ter um, e penso muito nisso, mas minha câmera não é tão boa e eu morro de preguiça de editar filmagens, então vou continuar com meu blog! Hoje assisti a dois vídeos, um do canal do Clarion De Laffalot, e outro no canal do Felipe Buarque, ambos fazendo críticas ao feminismo, o que me deixa muito satisfeita, na verdade, porque acho legal ver homens que se declaram não machistas tentando levantar argumentos e enriquecendo as discussões.

Os pontos que mais achei legais para levantar discussões, foram os seguintes colocados:

  • “O feminismo tem sido tratado como uma religião. As feministas o tornaram um assunto blindado, acham que ele é imune à críticas (…) o feminismo tem deixado de lado a ideia de lutar por igualdade e vem lutando por privilégios.”
  • “As leis brasileiras sempre discriminam em função da mulher: aposentadoria, proteção ao mercado de trabalho da mulher, separação, guarda dos filhos, licença maternidade.”
  • “As mulheres, em média, são condenadas a penas 40% menores do que os homens, quando cometem o mesmo crime que eles.”
  • “Com as conquistas já garantidas nas leis, as mulheres não precisam de novas leis feministas, e criar novas leis seria conceder privilégios a elas. Porém ainda são válidas mudanças promovidas na base da educação e na conscientização das pessoas.”
  • “As feministas não reivindicam o fim do alistamento obrigatório para os homens nem a igualdade na aposentadoria por tempo de contribuição (30 mulher e 35 homem) ou idade (60 mulher e 65 homem).”
  • “As mulheres vivem mais do que os homens, em média 7 anos: contribuem menos e vivem mais, desfrutando do INSS mais do que eles, que tem menos tempo livre para desfrutar de seu esforço.”
  • “As feministas são chatas que gostam de ficar discutindo etimologia, ou seja, acham que tudo é uma forma de discriminação.”
  • “As feministas gostam de patrulhar as roupas das mulheres, fazendo agora o papel que antes era dos homens, ou seja, estão apenas trocando o opressor e mantendo a opressão. Acham que se a mulher está usando roupas curtas demais, é um absurdo pois está se rendendo à sociedade sexistas e acham outro absurdo mulheres com roupas demais, pois dizem que estão sendo oprimidas pela sociedade machista.”

Esses foram alguns argumentos, que reuni resumidamente e que você pode entender melhor o contexto assistindo aos vídeos, e achei mais interessantes para desfazer algumas confusões acerca do assunto.

Acho muito engraçado que em grande parte desses vídeos fazendo críticas ao feminismo, os autores tentam provar por a mais b que os homens são tão ou mais discriminados que as mulheres, buscando colocar em xeque a importância do feminismo e invalidar sua luta porque eles acreditam que tudo não passa de ociosidade de mulher que não tem louça na pia para lavar. E, curiosamente, esses rapazes não se consideram machistas, são apenas bons homens esclarecidos, cof cof! Para eles, machismo é só quando uma mulher apanha do marido, sofre um estupro e é chamada de puta. O resto, é uma invenção do feminismo para acabar com a significância masculina.

Primeiramente, o que a maioria das pessoas não entende é que a luta contra o patriarcado beneficia a todos, tanto homens quanto mulheres. Ela é a base do feminismo, o que leva as pessoas a definirem, por isso, que ele é uma ideologia em favor da igualdade e não quer ostentar nenhum privilégio. Como eu já disse no meu texto de ontem, a extinção do patriarcado conseqüentemente levaria à queda dos papéis de gênero que promovem a desigualdade entre homens e mulheres.

Entretanto, é muito óbvio que o feminismo é dotado de imperfeições e discordâncias entre as próprias feministas, assim como acontece com todo e qualquer movimento de minorias políticas em que não há nenhuma centralização, ou seja, uma carteirinha e um conjunto de normas que incluam ou não pessoas em determinado âmbito político. Além disso, sabemos que houve muita confusão entre feminismo, igualdade e misandria. Algumas mulheres que se dizem feministas acreditam sim que devemos inverter a lógica da opressão e submeter os homens aos interesses femininos. Não preciso nem falar da desonestidade intelectual daqueles que afirmam que, porque existem loucas pregando o ódio, todas as feministas são loucas que pregam o ódio e fazem reivindicações furadas. Seria o mesmo que dizer que porque alguns homens estupram, todos os homens são estupradores em potencial.

Acho engraçado quando o Clarion diz que as leis favorecem as mulheres: me parece um tanto natural que em uma sociedade patriarcal onde as leis foram fundadas em cima de papéis de gênero muito bem estabelecidos, algumas leis pareçam beneficiar as mulheres, como por exemplo o fato de a mulher se aposentar mais cedo e com menor tempo de contribuição. Haja vista que na maioria dos casos as mulheres que trabalham enfrentam uma jornada dupla ou tripla de serviço, ao fazer a maior parte do serviço doméstico (foi aumentado em apenas 8 minutos o tempo que os homens dispensam fazendo essas tarefas), tenho a impressão que a redução no tempo de contribuição e idade para a mulher se aposentar seja a maneira que o legislador encontrou de criar alguma igualdade. Aprendi que isonomia no Direito significa “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de duas desigualdades”.

Porém, a suposta desigualdade na questão da aposentadoria tende a mudar ao passo em que o homem tenha a mesma responsabilidade que a mulher sobre as tarefas do lar, o cuidado com os filhos do casal e esta, desempenhe com mais facilidade o papel de chefe da família, assim como desigualdade a falácia do listamento militar obrigatório, que a Lola abordou muito bem nesse post.

E vou ainda mais fundo dizendo que são necessárias leis novas, mais eficientes e adequadas à realidade da mulher que se torna mãe hoje em dia. Precisamos sim de leis que aumentem o tempo de licença maternidade e ajudem a mulher a retornar ao mercado de trabalho após a maternidade, que façam força frente à cobrança desumana que a mulher que se torna mãe sofre da sociedade, que exige que ela seja bem sucedida, independente emocional e financeiramente, tenha tempo para estar impecável e eduque muito bem seus filhos.Não vivemos mais nos tempos de nossas mães e avós, onde leis mais eficientes não se faziam tão urgentes. Hoje, as mulheres que têm filhos não trocam, mas acumulam funções e papéis.

Além de proteção à maternidade, licença maternidade com maior duração, leis onde o Estado ampare a mulher que deseja ser mãe e facilite sua vida, também precisamos de leis que descriminalizem o aborto e cuidem do planejamento familiar para que as mulheres tenham como escolher se querem ou não ter filhos. E nada disso se trata de vitimização, de colocar a mulher em uma posição de fragilidade só quando nos convém, mas de lutar para que tenhamos um retorno do Estado proporcional à contribuição que nós mulheres damos, literalmente povoando o mundo com nossos úteros e amamentando a humanidade, afinal, todo mundo nasceu de alguma mulher e a sociedade precisa de pessoas para se manter.

O feminismo não é uma ideologia perfeita que está imune à críticas, pelo contrário, ainda precisa crescer muito e buscar soluções mais eficientes para os problemas que necessita enfrentar. Dito isso tudo acima, sugiro que os que tentam invalidar as importância do movimento, tentando mostrar o quanto a sociedade é injusta com homens, branços, héteros, cissexuais e de classe média, procurem entender melhor as questões que se dispõem a discutir e venham dotados de argumentos realmente válidos e não falácias e desonestidade intelectual.

Enquanto feminista, quero liberdade. Quero que as mulheres possam se vestir da forma que acharem melhor, dependendo unicamente de sua consciência e livre arbítrio, sem a influência de padrões machistas. Desejo que os homens eliminem os tabus, e passem a fazer exames preventivos e a cuidar melhor de sua saúde para que sua expectativa de vida aumente, além de torcer para que a violência entre os jovens, homens, negros e pobres, diminua que haja uma melhora na qualidade de vida masculina! A patrulha moralista pelas roupas, a violência, a falta de incentivo à saúde dos homens, são invenções do patriarcado, não nossas. Nós feministas, lutamos exatamente contra isso!