Afim de te acompanhar…

Uma sensação de Dejá vù a acordava. A mesma história começando a se repetir e ela tendo a consciência disso. Podia manipular os fatos, as pessoas, reverter o jogo para tornar a disputa favorável a si mesma, como não o fez à princípio? O que era real e o que não passava de imaginação? Ela estava confusa. O que era um presente vindo de lugar algum podia também ser uma arma de destruição em massa. Ela optara uma vez por ser altruísta, mesmo não sabendo a total dimensão dessa palavra, e em troca percebeu que as pessoas não se importavam com ela da mesma maneira a qual ela fazia questão de se importar. Era sempre verdadeira, mas agora podia escolher usar de sua influência e pensar apenas em si mesma.

Como maneira de supor o que poderia acontecer num futuro nem distante e nem próximo também, ela imaginava e criava hipóteses pra imaginar o que poderia ter acontecido se na primeira vez ela tivesse dado vida à víbora que residia em si, amordaçada por seus medos, inseguranças e vontade de agir de boa fé. Ela sabia que se quisesse podia ter o que sonhava. Sabia o que queria, enquanto a outra, não! Mas também tinha medo de entrar num jogo por pura gana de vencer e não por ter sentimentos de verdade, e aí jamais se perdoaria por ter agido por puro egoísmo, e não movida à paixão. Por muitas vezes ela fingia que não enxergava, mas longe de sua consciência ela admitia que eles tinham coisas em comum, e sonhos que casariam muito bem. Eles poderiam crescer juntos, viver não apenas de atração física, mas de horas infindáveis de assuntos, discussões edificantes e opiniões conjuntas. Ela questionava se ele já havia pensado essas coisas em segredo também e o motivo deles nunca terem usado o rótulo de melhores amigos, embora soubessem que compartilhavam intimidades demais.

O que separava sonhos da realidade? Por que ela tinha a impressão de que era inconsequente, enquanto ele era certinho demais? Por que vivia chegando à conclusão de que apesar de todas as diferenças, eles tinham objetivos muito comuns? Eles viviam, de formas diferentes, buscando as mesmas coisas em pessoas distintas, mas por que não um no outro?

Essas divagações porém, não cabiam. As questões que a motivavam a horas de reflexões eram existencialistas: ela sabia que qualquer decisão que tomasse, tendo consequências positivas ou negativas, seriam de sua responsabilidade. E tinha ciência também que não poderia sonhar eternamente, ou decidia-se a lutar por ele ou não. Ou dava a cara a tapa ou não. Ou vencia seus temores e descobria se ele se sentia da mesma forma, ou teria sempre um “não”! Seria um Dejá vù com gosto de volta por cima, ou amargurado com o sabor do altruísmo?

22.2.2012

*O título é um trecho de ‘Último Romance’, do Los Hermanos.

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